Texto publicado no jornal i de 14-03-3013, numa abordagem do autor ao (mau) emprego do verbo sedear na imprensa portuguesa. Tema que suscitou, já, anteriores controvérsias.
Num mundo sem Papa, não houve quem não escrevesse a expressão «sede vacante», que designa a diocese onde falta o prelado, por oposição à «sede plena», ocupada.
Sede (do latim sedes, ou seja, «assento») é a dignidade do bispo, arcebispo ou pontífice que exerce jurisdição em dado local. Por extensão, é o local onde reside uma autoridade ou está instalada a direcção de um organismo ou instituição: a sede do governo, a sede de um banco, a sede de um concelho.
Sede pode ser também o contexto em que algo é analisado ou avaliado. Juristas e cientistas sociais utilizam muitas vezes expressões como «em sede própria» para fazer referência ao ambiente em que um fenómeno é (deve ou deveria ser) observado. Daí o verbo sediar (e não “sedear”): significa «servir de sede», «estabelecer como local onde alguma coisa ou algum acontecimento ocorrerá» e tem surgido como sinónimo de «localizado» ou «centrado». No escasso noticiário científico que os jornais portugueses imprimem, é assim que ele tem sido referido. O Expresso do sábado passado [8-03-2013], na sua primeira página, num interessantíssimo artigo, apontava a existência de pessoas dotadas de um sistema imunitário que torna inofensivo o vírus da sida. O interesse do estudo era, no entanto, posto em causa pelo português atabalhoado da abertura da notícia: «Estudo sediado nos EUA está a analisar 974 pessoas no mundo infectadas pelo VIH, que controlam naturalmente o invasor, e 16 são portuguesas.» Estas 16 talvez estejam “sediadas” em Portugal?