Um tema da atualidade portuguesa – a demissão do presidente executivo do Novo Banco (que substituiu o anterior Banco Espírito Santo) – como pretexto deste apontamento do autor à volta da regência do verbo reunir. In jornal “i” do dia 25 de setembro de 2014.
Entre os densos mistérios da nacional história contemporânea figuram os contornos da saída de Vítor Bento do comando do novo banco bom, a entrada da nova administração, o papel dos patrões europeus, as pressões do governo e do Banco de Portugal. Muitos mistérios num só.
Tardiamente, as fugas de informação e o "jornalismo de investigação" revelaram que o fim da primeira administração do novo banco bom era "expectável" desde que, numa não noticiada reunião "entre" Carlos Costa e Vítor Bento, este viu rejeitados os seus planos para a sua instituição.
Reunião é o acto de voltar a unir, de maneira menos ou mais temporária, aquilo que se encontra separado; é uma junção, uma agregação, uma reunificação. Mas não necessariamente uma união, a qual indica uma permanência, um prolongamento temporal acentuado. Pense-se no Reino Unido: foi unido pela história; o recente referendo indicou que a união pode não existir para sempre, mas não foi necessário um processo de reunificação, dado que nenhuma separação fora verificada.
Pense-se também que o Reino Unido não é a união “entre" quatro países. Da mesma forma, não houve reunião "entre" Costa e Bento. Houve (saber-se-á um dia?) uma reunião (ou mais) de Costa e de Bento, ou uma reunião de Costa com Bento, ou de Bento com Costa. Isto porque, quando duas pessoas se reúnem, não se reúnem "entre" si. No caso, os dois encontravam-se numa situação de igual perigo e dificuldade. Como escreveria Saramago, entre a espada e a parede, entre Cila e Caríbdis, entre a cruz e a caldeirinha.