Que reacções merece a omnipresença de erros de língua na imprensa? É o que questiona este artigo.
Em pouco mais de dez minutos de consulta da imprensa online diária, detectei, sem intenção, três erros grossos:
«Taxas Euribor caiem pelo segundo dia consecutivo» (Diário Digital, 14/10/08) – o correcto é caem.
«Os banqueiros portugueses defendem a necessidade dos bancos se puderem financiar» (Sol, 14/10/08) – o correcto é de os, e o que a seguir devia estar escrito era poderem e não puderem.
Doutras consultas anotei também estes:
«Mesmo como artista já começam a haver mecanismos de protecção» (Visão, 18/01/08) – Deve dizer-se «começa a haver»…
«O ex-presidente da Mesa do Congresso do PSD (…) é caústico para Manuela Ferreira Leite» (DN, (7/08/08) – "caústico", não: cáustico.
Muitos mais ficaram por anotar.
Sabemos porque é que isto acontece: o ensino da língua materna no básico e no secundário é muito pouco exigente, e o exercício continuado e sistemático da escrita é praticamente nulo nas escolas públicas; depois, o ensino superior não chama a si a responsabilidade de pôr os alunos a escrever com correcção ortográfica e gramatical; soma-se a isto o facto de haver muita condescendência para com erros clamorosos como estes, dentro da comunidade jornalística e fora dela.
Que palavras de protesto merece uma situação destas? Pessoa encontrou-as:
«Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse» (Livro do Desassossego).
Artigo publicado no semanário Sol de 18 de Outubro de 2008, na coluna Ver como Se Diz.