O programa Novas Oportunidades tem uma disciplina intitulada «Cidadania e Profissionalidade» com o objectivo de desenvolver nos formandos a «capacidade de programação de objectivos pessoais e profissionais».
A palavra "profissionalidade" não está registada em nenhum dicionário. Existe profissionalismo, «cumprimento do trabalho com seriedade e rigor», antónimo de incompetência, laxismo. Não é essa, porém, a palavra (ou noção) visada na dita disciplina.
Admitamos, no entanto, que a palavra "profissionalidade", não existindo, podia existir. Afinal, também temos funcionalidade e funcionalismo, facilidade e facilitismo: uma mesma forma de base gera dois nomes com significados diferentes, a partir de dois sufixos diferentes. Mas se a forma "profissionalidade" até é reconhecível, qual será, então, o seu conteúdo? "Profissionalidade" terá alguma coisa que ver com profissão, mas o quê?
No debate da Proposta de Orçamento de Estado para 2008 falou-se em «desorçamentar a Estradas de Portugal» e de «mecanismos para desorçamentar a despesa». O JN chega a perguntar «Afinal, quem desorçamenta mais?» (23/11/07). "Desorçamentar" também não está no dicionário, mas como reconhecemos facilmente o prefixo des- (um dos mais populares na criação de palavras em português), sempre podemos adivinhar que desorçamentar será qualquer coisa como pôr um valor no orçamento e depois tirá-lo.
A criação de novas palavras (neologismos) ocorre quando há necessidade de designar um novo aspecto da realidade. As realidades que as palavras "profissionalidade" e "desorçamentar" supostamente captam são tão recentes que desconfiamos que foram construídas só para o tempo e país em que estamos agora.
Gianni Rodari, em Histórias ao Telefone (Ed. Teorema), conta como Joanino foi ter ao despaís, onde, ao tocar a descorneta, se disparava o descanhão e a guerra desfazia-se.
País de faz-de-conta.
Artigo publicado no semanário Sol de 9 de Fevereiro de 2008, na coluna Ver como Se Diz