«…os documentos que encontram-se em anexo a esta acta»
«Alguém pode-se lembrar…»
«Junto enviamos-lhe o seu cartão…»
«Nada mais exprime-se…»
Começa a ser cada vez mais comum ouvir construções deste tipo, quer na oralidade quer na escrita. Os exemplos não acabam.
O que não está bem é o lugar em que o pronome se encontra, neste caso depois da forma verbal.
Fenómeno de hipercorrecção? Preconceito? É que, no português de Portugal, o correcto não é colocar-se sistematicamente o pronome após o verbo, embora haja muitas situações em que é assim que deve ser.
É o caso das frases simples, na forma afirmativa, que pedem pronome após o verbo, ligado por hífen:
«As pessoas esforçaram-se imenso…»
Já frases complexas, frases na negativa, ou quando o verbo vem antecedido de certas palavrinhas, o pronome não fica a seguir ao verbo, mas sim antes:
«Nada mais se exprime…»
«Alguém se pode lembrar…»
«Junto lhe enviamos o seu cartão …»
Sem querer meter a foice em seara alheia, todos sabemos como na fala informal do Brasil se utiliza habitualmente o pronome antes do verbo:
«As pessoas se esforçaram imenso…»
Trata-se de construções que em Portugal por norma não se ouvem. Digamos que, no português de Portugal, a colocação correcta do pronome é natural, não havendo distinção entre a língua coloquial e a língua culta.
Já o mesmo não se passa com os nossos irmãos brasileiros que coloquialmente recorrem à próclise (pronome antes do verbo) - usam-na e soa bem, realça até a graciosidade da língua — mas que se confrontam, no português formal, com uma norma que impõe para a colocação pronominal as mesmas regras usadas naturalmente em Portugal.
É confrangedor ver, com muita frequência até, sítios — e não apenas brasileiros — em que, num esforço de hipercorrecção, se atira com os tais incómodos apêndices para o lugar errado. E como a língua perde, santo Deus, em sonoridade, em naturalidade… em correcção, claro…
O pior é que o fenómeno está a alastrar. A confusão parece estar instalada. E é assim que, cada vez com mais frequência, nos surgem, por parte de pessoas cultas ou com obrigação de o ser, em documentos oficiais, em cartas comerciais, na rádio (ai, ai, Antena 2!), essas anómalas construções.