Wilton Fonseca discorre acerca do verbo investir e das suas flutuações no discurso da imprensa escrita portuguesa.
O pensamento economicista que guia o nosso quotidiano provoca curiosas transformações na maneira como lidamos com determinadas palavras ou expressões. O verbo investir e as palavras a ele associadas (investida, investidura e investimento, entre outras) podem constituir um bom corpus de reflexão, que me foi sugerido por um estranho título do “Expresso”. O semanário colocou na boca do presidente do México a seguinte afirmação: «Queremos aumentar o investimento entre Portugal e o México.»
Antes de examinarmos a declaração de Peña Nieto (que não é obrigado a falar português), vejamos o que significa investir. Os dicionários atribuem-lhe diversas acepções: dar posse formal a alguém num determinado cargo (investidura); atacar, acometer, arremessar-se contra alguma coisa (investida); aplicar, despender esforços ou energia (investimento). Daí que os economistas tenham definido investimento como a aplicação de capitais na aquisição de bens de produção ou em qualquer actividade. Foi com este estatuto que a palavra ganhou qualidades abstractas, próprias das coisas que pairam acima de tudo e de todos, sobre as quais há vagas ideias e poucas certezas.
Quando Peña Nieto proferiu a sua afirmação, deve ter tido em mente a necessidade de aumentar os níveis do investimento português no México e do investimento mexicano em Portugal. Talvez pensasse em «comércio» ou no intercâmbio de capitais.
O «investimento entre» é que não faz sentido. Ou não fazia, quando ainda era o que era.