«[…] decidi analisar de forma rigorosa, aprofundada, e por escrito, essa fase da vida portuguesa, para explicá-la aos portugueses, porque falar oralmente, qualquer um pode fazer, mesmo não sabendo nada das questões, mas escrever, assinar por baixo, e publicar, só pode fazer quem estuda bem os problemas».
SIC Notícias, 10 de março de 2014
Tem sido muito glosada nas redes sociais a expressão «falar oralmente», usada pelo Presidente da República (PR) de Portugal. Porém, a expressão, parecendo um pleonasmo vicioso, na linha dos muitos já por aqui apontados, tem um pouco mais que se lhe diga. Li até que seria o mesmo que "escrever por escrito", esse, sim, um claro pleonasmo vicioso.
Sendo certo que falar se aplica sobretudo, ou quase com primazia à palavra dita, e estando ali em oposição à palavra escrita, aquele verbo tem, porém, um sentido mais lato. Falar também significa «dizer, exprimir-se, comunicar», e – como sabemos – também dizemos, nos exprimimos e comunicamos oralmente. É aliás corrente, mesmo por escrito, usarmos expressões como: «fala de papo cheio», «fala de alto», «fala grosso», «dá que falar», entre outras.
Adianto, aliás, adicionalmente um exemplo em que a expressão «falar oralmente» decerto não chocará ninguém: «Não se podem discriminar os surdos-mudos só porque não conseguem falar oralmente, mas sim através de linguagem gestual». Também lá poderia estar «linguagem escrita».
A expressão utilizada pelo PR não sendo feliz, e muito menos elegante, talvez também não seja assim tão merecedora de crítica...