A palavra latina “defice” há muito que se encontra aportuguesada, na feição natural da nossa língua: défice – é assim que se recomenda na sua prosódia. Foi o que não se ouviu ao que se ouviu ao secretário de Estado adjunto da Indústria e Inovação português, António Castro Guerra, quando culpou os consumidores pela anunciada subida de 15,7 % na factura da electricidade no país: «O “deficit” tarifário [pronunciando “déficite”] só pode ser imputado aos consumidores. São os consumidores que devem este dinheiro, não é mais ninguém. Foram eles quem consumiu a energia no passado que gerou esse “deficit”. Ora este “deficit” naturalmente tem que ser pago por quem o gerou.»
Segundo erro: a locução tem que deveria ser substituída por tem de, que indica «obrigação», «dever»: «Os consumidores têm de pagar muito mais»; «tu tens de me dizer a verdade». Diferentemente, tem que emprega-se no sentido de «ter algo para»: «Não posso ir ao cinema, pois tenho que fazer. (= tenho coisas para fazer, tenho muito que fazer)».