O registo escrito em televisão, possível graças aos dispositivos de inserção de caracteres que permitem inserir texto — legendas, rodapés, etc. — em programas e peças jornalísticas, comporta frequentemente casos quase caricatos em matéria de língua portuguesa. Será talvez porque a função possa ser entregue a não jornalistas? Será talvez, em certas situações, pela pressão do direto? Não sei! Este caso é, porém, ainda mais incompreensível porque aconteceu com informação previamente preparada, na circunstância os resumos dos programas disponibilizados por um dos fornecedores do serviço televisivo por cabo. Na sinopse do filme Zoolander, que passou no dia 30 de março de 2012 à noite, no canal por cabo AXN Black, disponibilizado pela Zon, cuja informação ainda se encontra no site do canal na internet, podia ler-se a frase:
«Derek Zoolander foi o modelo masculino mais “cotizado" dos últimos três anos»
Queria-se evidentemente dizer que foi o modelo mais cotado dos últimos anos. Ou seja, o modelo mais afamado, mais reputado, mais renomado, ou até aquele que teve a cotação mais alta. A confusão é entre cotizado, particípio passado do verbo cotizar, e cotado, adjetivo e também particípio passado do verbo cotar. Ora, além de não existir o adjetivo cotizado, o sentido dos verbos também é diferente, já que cotizar é contribuir com quota, fração ou parte, e cotar é estabelecer ou fixar um valor.