O que é uma metáfora? A metáfora consiste na identificação de uma área de referência, concreta, a uma outra área de referência, abstracta. Basicamente, a metáfora permite compreender uma coisa em termos de outra.
Sendo muitas vezes entendida exclusivamente como um ornamento retórico, a verdade é que a metáfora é intrínseca à maneira como pensamos o mundo, a partir da nossa experiência quotidiana — o que se reflecte na estrutura semântica da língua.
Vamos aos exemplos. «O deputado esgrimiu argumentos que abriram uma nova linha de ataque, mas essa estratégia não demoliu o adversário.» O que temos aqui? Temos a associação da discussão à guerra. «Ele era já um homem maduro e experiente e, no entanto, fez aquilo.» O homem identifica-se com um fruto. «O jornalista colheu várias opiniões sobre o assunto.» As opiniões são plantas, frutos ou cereais.
Quem diz colher, diz ceifar: «Os acidentes rodoviários nas estradas portuguesas ceifaram a vida a 551 pessoas desde o início do ano.»
Vem isto a propósito das declarações de Miguel Portas sobre os Verdes Eufémias (Lusa/Sol, 20 de Agosto): «Os activistas terão errado no alvo porque ceifaram um hectare de milho transgénico de um pequeno agricultor (…).» A TVI foi logo atrás e noticiou que «os manifestantes ceifaram o milho». Está bom de ver que o verbo ceifar, neste contexto, não podia ser usado, porque o sentido próprio e concreto de ceifar é já, mesmo… ceifar milho (ou cereais). O que Miguel Portas só tinha de dizer era que os indivíduos destruíram, aniquilaram ou arruinaram o milho. Mas, como quis atenuar a acção, optou por fazer uma bela metáfora.
Só falhou foi a dizer a verdade.
Artigo publicado no semanário Sol de 8 de Setembro de 2007, na coluna Ver como Se Diz