Não sendo do conhecimento geral, importa alertar os leitores que existem duas formas aportuguesadas para designar a cidade espanhola de Valladolid: Valhadolid e Valhadolide. A primeira, cujo d final pode ser pronunciado ou não (cf. Base I, 5, do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa), alinha com os nomes próprios David e Madrid, também com pronúncia opcional de d, e com Cid, com letra final claramente articulada. Valhadolid não é grafia de agora, pois já tinha sido validada pelo Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa (1947) e pelo Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), obras que partilham a autoria de Rebelo Gonçalves (1907-1982). Quanto à forma Valhadolide, encontra-se ela registada no Vocabulário Onomástico da Língua Portuguesa (1999) da Academia Brasileira de Letras, embora já figurasse antes no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa de 1940, publicado pela Academia das Ciências de Lisboa. No que concerne, portanto, a aportuguesamentos, a cidade castelhana seria designada como Valhadolid em Portugal, enquanto Valhadolide é designação recomendada no Brasil.[1]
Justifica-se igualmente perguntar o que acontece quando nos referimos a cidades ou regiões do país de nuestros hermanos. Quatro situações distintas podem ocorrer: topónimos que são grafados sempre em castelhano (ex.: Castellón, Las Palmas, San Sebastián, etc.); topónimos que passam para português sem adaptação gráfica por se grafarem exatamente da mesma forma (ex.: Barcelona, Ávila, Tarragona, etc.); topónimos com grafia diferente da espanhola e que são totalmente reconhecidos e estão em plena vigência (ex.: Sevilha, Palma de Maiorca, Cádiz, etc.); e, por fim, topónimos que, tendo grafia portuguesa, esta não está consolidada no uso, e as formas espanholas podem ocorrer em alternativa (e até ser preferíveis) – é aqui que se enquadram Valhadolid e Valhadolide (ex.: Samora/Zamora, Córdova/Córdoba, Leão/León, etc.), formas muitas vezes preteridas pela castelhana Valladolid.
Podia ainda ter-se dado o caso de nos estarmos a referir a uma cidade que outrora teve uma adaptação gráfica para português, mas que, por ora, já não existe. Refiram-se dois exemplos: o de Badajoz, em tempo Badalhouce, e o de Guadiana, que, em português vernáculo, já foi Odiana.
[1 N. E. – Agradece-se ao consultor Luciano Eduardo de Oliveira a seguinte observação: «[...] Valhadolide goza de escassíssimo uso no Brasil. [...] A forma predominante, bem ou mal, é a espanhola.»]