Um dia destes, falava com um jovem sobre a escola e os acontecimentos que por lá iam tendo lugar, quando ele resolveu contar o brilharete que tinha feito ao saber responder a uma pergunta difícil. Finalizou a história com um enunciado simples que terminava em tom ascendente e que sinalizava tratar-se de uma questão:
− Buédinteligente, tá-za-ver?
A forma como foi pronunciada dava à frase um ar de pertencer a uma língua eslava, mas eu sabia que o jovem era português de gema e, se falasse outra língua, seria no máximo um inglês aprendido aos soluços na escola. Portanto, ele estava a falar português, com toda a certeza. Por isso, retorqui:
− Desculpa? Não percebi.
Sem pressa, ele repetiu com aquele sotaque carregado de tons estranhos, quase agressivos:
− Buédinteligente, tá-za-ver?
Já mais familiarizada com as sonoridades, pensei que ele me perguntava se eu estava a ver o professor da história que ele me tinha contado e respondi:
− Não, agora não o estou a ver. Mas, conheço-o.
Com um rosto transformado em interrogação, o jovem olhou-me perplexo:
− Não é isso. Só estava a dizer que sou buédinteligente, tá-za-ver?
Regressei à minha impressão inicial: afinal ele estava mesmo a falar outra língua que eu desconhecia e isso estava a barrar a comunicação:
− Diz?
Agora o jovem olhava-me com um sorriso irónico, como se eu fosse completamente destituída:
− Esquece, tá-za-ver?
Provavelmente, estava a ficar surda. Não conseguia associar o som das palavras ao seu significado (pode acontecer com a idade), mas, para não parecer mal, atirei-lhe:
− Okay, tipo iá.
Acho que me safei de boa porque ele sorriu e levantou o polegar. Imaginem que o baixava… (lembrei-me logo das matanças na Roma da antiguidade).
Fica a lição: a comunicação com os jovens pode ser difícil porque, por vezes, eles falam “outra língua”. Podemos aprendê-la e falar com eles ou esperar que eles a esqueçam (o que acaba por acontecer de uma forma ou outra).
Fui embora e disse-lhe adeus. Ainda ouvi:
− Xau, stora. Fico aqui a "stalkear" uma miúda…
− ?