Em boa verdade vos digo que, diga-se o que se disser, o português é uma língua muito rica. Porém, nos dias que correm, como costuma dizer-se, um dos problemas desta nossa língua é, dizem os entendidos, a sua redução ao essencial, a poupança de que é alvo, num domínio onde, diga-se, o esbanjamento seria muito bem-vindo. Esta situação determina que muitas palavras sejam forçadas a dizer adeus ao mundo dos usos, ficando condenadas a não serem ditas e ao enclausuramento numa página bafienta de um dicionário mais ou menos virtual, depósito de palavras para dizer.
Há quem diga cobras e lagartos de toda esta situação e também há quem diga que vai dizer umas coisas a quem descuida o nosso património linguístico. Mas, atenção ao que dizem para que eu não seja obrigada ao «eu não vos disse» ou ao «o que é que eu vos disse». Quer dizer, digo eu com os meus botões, os falantes são avaros, por assim dizer, com uma língua que é rica, como se diz por aí.
Todavia, diga-se, a bem dizer, não é difícil dizer o que se tem a dizer sem esventrar a mesma palavra, ou seja, usando palavras que não tenham sido já ditas e reditas. Ora digam comigo…
Diga-se (afirme-se) que aos portugueses o dicionário não diz (interessa) nada, ou diz (importa) pouco, mas o que lá se diz (está escrito) poderia ser uma ajuda importante para aperfeiçoar o que na escrita ou na fala se diz (transmite) porque a comunicação não tem de se assemelhar ao dizer (repetir de cor) a tabuada nem de se reduzir àquilo que os outros dizem (papagueiam). O desgaste que sofrem certas palavras, digo (afirmo) eu, deveria ser suficiente para que se dissesse (decretasse) que elas tinham direito a férias ou, diga-se (refira-se) mesmo, a um esquecimento temporário. Para que isso possa efetivamente acontecer, cada um terá de dizer (confessar) o abuso do uso. Depois, será o momento de olhar o pobre verbo dito e redito e dizer-lhe (ordenar-lhe) que saia porque a sua presença excessiva não diz (se coaduna) com as intenções de cada um, embora “dizer” seja um verbo versátil, convém dizer (esclarecer) para não traumatizar.
Esclarecidos os ditos e não ditos, poderíamos abrir a porta aos verbos esquecidos e dizer-lhes a falta que nos fizeram. Entrem, entrem e, vá lá, digam que nos perdoam a falta de “dito”: acentuar, afirmar, confessar, declarar, transmitir, informar, revelar, escrever, observar, precisar, rematar … Calma, calma, há espaço para todos serem ditos!