A palavra gireza começou — parece-me — a ser usada em português europeu por gente mais jovem nas redes sociais, em ambiente de escrita informal, descontraída, coloquial, passou em seguida para os blogues mais sérios e está agora nos jornais, primeiro no Metro, ainda com aspas, e agora, no Público, usada por Miguel Esteves Cardoso (MEC), numa das suas crónicas. Não sei se definitivamente consagrada no léxico, mas, pelo menos, pela notoriedade de quem a usa, a merecer que se olhe para ela.
1. «A surpresa está no ar despachado dela, e na “gireza” máscula dele, ambos irresistíveis num filme de domingo à tarde» (Metro, n.º 1211, 7 de Maio de 2010).
2. «O inquérito era dominado por listas e avaliações, permitindo que todos soubessem o que os outros diziam publicamente deles. Não seria bem o que pensavam deles – mas eram informações preciosas. Havia listas de inteligência, personalidade, gireza, sentido de humor, sexiness, bom gosto e tudo o mais que se quisesse saber, tudo escrito pela mão de cada um e uma» (Público, 28 de Dezembro de 2010).
Ela está, pois, aí. Bem construída, a partir do adjectivo giro, a que se adicionou o sufixo -eza, e é bem capaz de estar a fazer o seu tirocínio a caminho da dicionarização. Está aí devido ao uso de giro, que apresenta algumas cambiantes em relação a bonito. E, tendo o adjectivo bonito gerado o substantivo boniteza, era talvez uma questão de tempo até o adjectivo giro gerar gireza.
Dos dicionários e vocabulários que consultei, nenhum lhe faz referência com este sentido. Curiosamente, o Grande Dicionário da Língua Portuguesa (GDLP-PE) da Porto Editora, quer na versão em papel quer na versão electrónica, regista o nome feminino gireza, com etimologia que o radica no crioulo guineense (jiresa, de jiru, «esperto»), significando «esperteza, malícia, maldade». Nos corpora que consultei não aparece com nenhum dos sentidos. E uma pesquisa no Google permite-nos ver com alguma abundância apenas o sentido utilizado por MEC. O que me leva a questionar a representatividade que terá na língua viva o sentido que lhe dá o GDLP-PE e os critérios que presidem a estas importações apresentadas sem abonações. O curioso — ou, porque não?, giro — é que não é difícil encontrar a gireza de MEC, mas dão-se alvíssaras a quem encontrar a gireza do GDLP-PE…