Subir para cima é o contrário de descer para baixo e sair para fora é o contrário de entrar para dentro.
Se atentarmos nos pequenos detalhes do parágrafo anterior, reconhecemos alguns factos reais que correspondem a traços que identificamos nos textos de muitos falantes. Referimo-nos ao pleonasmo, um fenómeno linguístico que consiste na repetição de um mesmo conceito numa dada expressão. A razão desta opção é porque o falante pretende vincar uma ideia ou adota uma expressão que está disponível e que ouve com alguma frequência. Há pleonasmos que já se usavam há alguns anos atrás e outros que são uma surpresa inesperada.
É verdade que nem todos os falantes incluem pleonasmos no seu discurso, mas uma unanimidade de todos reconhece o seu sentido, a não ser que alguém crie uma nova expressão. Verdade verdadeira, os pleonasmos, por vezes, esvaziam-se semanticamente e deixam de ser sentidos como repetições pelos falantes.
Na perspetiva da correção linguística, o pleonasmo é considerado um vício de linguagem porque, afinal, mais não faz do que repetir outra vez o que já ficou dito. Este retomar de novo leva a que as expressões pleonásticas sejam uma dupla de dois, na qual a segunda palavra torna a insistir no mesmo conceito, como se buscasse a certeza absoluta de uma expressão.
É evidente que a linguagem concede aos falantes uma liberdade de escolha e, na minha opinião pessoal, alguns pleonasmos usados em certos contextos não são duas metades iguais porque ambas as duas expressões podem exceder em muito o significado banal de uma ideia. É evidente que esta interpretação não pode ser alargada a todos os usos sem exceção, ou seja, esta intenção de reforço não descreve o panorama geral dos usos pleonásticos.
Se procurarmos um antídoto contra os usos sem significado do pleonasmo, uma opção parece passar pela tomada de consciência. Esta atitude obrigará a ouvir criticamente os discursos e a encarar de frente aquilo que se verbaliza. É possível também fazer uma retrospetiva passada daquilo que se costuma dizer de modo a chegar a uma conclusão final que permita identificar quais os pleonasmos a que habitualmente se recorre. Esta visão crítica permite uma planificação antecipada dos nossos discursos, que passarão a adotar os pleonasmos apenas como escolha opcional, sem exceder em muito o razoável e buscando em cada criação nova não retornar de novo ao erro cometido.
Um bom exercício poderá constituir este texto que, vi com os meus olhos, está totalmente cheio de pleonasmos. Quantos são em quantidade?
Cf. 10 pleonasmos comuns que deve evitar + ‘À muito tempo que não te via’, ‘hades’ cá vir. Estamos a dar mais erros de português?