O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, fez de improviso, no passado dia 5 de Setembro, o seu discurso de encerramento na Universidade de Verão 2010 deste partido português, em Castelo de Vide. A dada altura do mesmo, refere: «O PSD não pautua o seu comportamento para agradar ao Partido Socialista» (cfr. passagem do vídeo entre os minutos 30 e 31).
Quando a ouvi, pareceu-me tratar-se de um erro. Ou por adição indevida da vogal u ao radical, repetindo-a, ou por simpatia com verbos semelhantes da primeira conjugação — terminada "ar" —, como por exemplo autuar ou pactuar, de tema em "a", em que a terceira pessoa do presente do indicativo se conjuga autua ou pactua.
Só que manda a prudência e a humildade que não tomemos como certo aquilo que acreditamos que sabemos. Uma simples pesquisa no Lx-Conjugator dá-me a conjugação toda do verbo. E os dicionários mais antigos — Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, e Novo Dicionário Compacto da Língua Portuguesa, de António de Morais Silva — esclarecem-no inequivocamente: pautuar é sinónimo de pautar. Ainda procuro uma abonação. E descubro que Brito Camacho, em Por Cerros e Vales, terá utilizado o verbo: «Uma espécie de fatalismo muçulmano pautua o complicado mecanismo da vida agrícola…» (Grande Enciclopédia Portuguesa Brasileira), o mesmo acontecendo com o poeta e ensaísta brasileiro oitocentista Domingos José Gonçalves de Magalhães, no seu Discurso sobre a História da Literatura do Brasil: «[…] o segundo inteiramente se pautua pelo primeiro […]» (Corpus do Português, de Mark Davies e Michael J. Ferreira). Aliás, não devo ter sido o único a ter essa dúvida, já que a investigadora brasileira Ana Beatriz Demarchi Barel, em Um Romantismo a oeste: modelo francês e identidade nacional, ao transcrever o seu conterrâneo supracitado, não deixa de assinalar «sic» naquela forma.
Parece, pois, ser verbo talvez mais utilizado no século XIX e entretanto caído em desuso, porém, dicionarizado — embora os dicionários mais recentes não o incluam — e ainda vivo, como se vê pelo discurso de Pedro Passos Coelho e se confirma escavando esse megacorpus que é a Internet.