A propósito das recentes eleições no país vizinho, falou-se frequentemente da «balcanização da Espanha». Já antes se tinha alertado para a «balcanização do Congo» e se anteviu a «balcanização do Iraque».
Balcanizar e balcanização são palavras recentes na língua e já constam de alguns dicionários.
Estes termos assentam na longa história dos Balcãs — vasta região montanhosa que, em diferentes zonas, serviu de refúgio a sucessivas levas de povos perseguidos, dando-se assim origem ao acantonamento de etnias, línguas e religiões. Veja-se que o século XX está balizado pela I Guerra Balcânica, de 1912, e a «guerra dos Balcãs», da década de 90. Percebe-se então que a palavra Balcãs active o estereótipo de uma região em permanente fragmentação.
Não há, porém, nenhum factor intrínseco à língua que determine a criação do vocábulo balcanização em detrimento de, por exemplo, vietnamização, para designar um conflito mal resolvido; ou de cubanização, para referir a longevidade asfixiante de um reduto comunista. Atente-se também nas palavras que temporariamente designam realidades políticas: formou-se a palavra cavaquista quando Cavaco Silva era primeiro-ministro; formou-se guterrista na altura do Governo Guterres — mas não se formou socratista... Já Salazar originou salazarista e, mais recentemente, "salazarento".
Desiluda-se quem pensar que a língua é um conjunto de formas logicamente concebidas por uma agremiação de gramáticos.
Artigo publicado no semanário Sol de 31 de Março de 2008, na coluna Ver como Se Diz