Os vários matizes dos neologismos são o tema deste texto publicado no Sol.
Pode-se falar por palavras que não existem? Pode. Lembram-se do ilustre prefeito de Sucupira, Odorico Paraguaçu (da novela O Bem-Amado)? As respostas às acusações da oposição estavam sempre prontas, mais ou menos nestes termos: «Isso são declarações inverídicas, sem-vergonhistas e demagogistas!»
Era uma caricatura, claro, mas não está toda a caricatura fundada na realidade?
A criação de palavras permite a renovação do léxico da língua. Criam-se palavras novas pela necessidade de designar uma realidade anteriormente inexistente ou para dar uma visão inovadora e cativante de uma situação:
«Numa Rússia que entre autoritarismos e petrorublos …» (ou, melhor, «petrorrublos») (João Carlos Barradas, Jornal de Negócios, 6/8/08);
«Malware distribuído através de uma vulnerabilidade do Flash» (Fábrica de Conteúdos, 14/8/08).
Mas inventam-se também novas formas por simples ignorância, por não se saber que já existem outras equivalentes, ou, então, pelo gosto de ser diferente no falar ou, ainda, porque se quer dar uma toada pejorativa a uma designação ou classificação.
«O assassínio [de Obama] seria o "toque final" (…) numa manobra carregada de simbolismo para os supremacistas brancos» (Público, 28/10/08);
«Augusto Santos Silva, o ministro controleiro dos deputados do PS» (Sábado, 23/12/08).
Elas não vêm no dicionário, mas que as há, há.
Artigo publicado no semanário Sol de 3 de Janeiro de 2009, na coluna Ver como Se Diz.