Benfica e Sporting vão hoje a campo para a Liga nacional, os encarnados recebem o Desportivo de Chaves, a seguir o Sporting joga na Amadora. Para ver já a seguir a um curto intervalo.
CNN Portugal, 29 março 2024, 10h47
Foi a primeira vez que ouvi este «ir a campo» no sentido de «entrar em campo» para disputar um jogo. Parece-me uma variante de «ir a jogo», «ir à liça» ou «ir à luta». Embora haja alguns registos, sobretudo recentes, parece-me bastante residual em Portugal. Porém, sendo pouco usada em Portugal, esta formulação é comum no Brasil para significar que duas equipas entram em campo para disputar um jogo, como qualquer pesquisa na Internet facilmente comprova. Além do desporto a expressão é ainda comum na investigação científica para significar o ato de realizar um «trabalho de campo», ou seja, uma investigação no terreno, encontrando-se, neste sentido, variados registos de «ir a campo», com o verbo ir flexionado. É, pois, comum no português do Brasil, um sociólogo, um antropólogo, ou um qualquer cientista social «irem a campo» para realizar um qualquer trabalho de pesquisa. Verifica-se já esta formulação em Portugal em alguns registos universitários:
«A partir desta perspetiva surgiu a necessidade de entender a relação do turista com Évora e especificamente com a tecnologia pessoal, para esse feito foi necessário ir a campo conseguir essas respostas» (Camila da Silva Campos, Turismo e Desenvolvimento de Destinos e Produtos, Universidade de Évora, 2023, p. 2)
«[...] são desenvolvidos através das interações sociais concretas/experienciadas, mais que a partir do regramento apresentado no discurso/pregação educativa, entretanto é preciso ir a campo, porque há indicativos de todos os lados, sobre uma fratura em expansão no modelo escolar [...]» (Rosana Coronetti Farenzana, Nas redes do instituído e das transgressões: crianças tecendo seu quotidiano em vivências lúdicas e bullying nos tempos e espaços escolares, Universidade do Minho, 2017, p. 2)
O que fica a dever-se quer ao crescente número de estudantes brasileiros em Portugal, quer a projetos e trabalhos comuns entre académicos dos dois países, quer ainda à publicação de trabalhos de investigadores brasileiros em revistas portuguesas, estando também, como parece, já a entrar na linguagem comum.