Marcelo Rebelo de Sousa, no seu habitual espaço dominical de comentário na TVI, acusou o líder do PS de ter feito uma «golpaça» («Um líder forte não precisa da golpaça de fazer revisões de estatutos, violando os estatutos» (Diário de Notícias, 3 de abril de 2012, p. 8). António José Seguro defendeu-se dizendo que não fez nenhuma «golpaça»: «[A revisão estatutária no PS] não foi uma golpaça nem um golpe de secretaria» (ibidem). Um jornalista do mesmo jornal, comentando o caso, também se refere à «golpaça» e a primeira página do jornal idem: «António José Seguro foi ontem à TVI responder às acusações de “golpaça” feitas nas mesma estação, domingo, por Marcelo Rebelo de Sousa».
Comentadores e jornalistas dos mais diversos media e quadrantes também abordaram a dita «golpaça». Depois deste episódio, as redes sociais e a blogosfera política ficaram pejadas de referências à «golpaça». O Google apresenta alguns milhares de resultados para «golpaça», número para o qual muito terá contribuído esta «golpaça» de Marcelo Rebelo de Sousa…
Neste ínterim ninguém parece ter reparado que a palavra «golpaça» não está dicionarizada, o que está é golpada.
O que fez Marcelo Rebelo de Sousa? Pegou no substantivo golpada, retirou-lhe o sufixo -ada e substituiu-o pelo sufixo aumentativo -aça, conferindo uma conotação mais pejorativa a uma palavra que já a tem. O sufixo -aça é usado em palavras como por exemplo gentaça, mulheraça, louraça, peitaça ou populaça, colocando-lhes frequentemente algo de depreciativo. Não lhe chegando o golpe ou a golpada, que já significa «grande golpe» ou golpe forte, Marcelo Rebelo de Sousa quis ainda carregar um pouco mais nas cores e cunhou, mas corretamente — diga-se —, esta «golpaça»…
E assim se criam novas palavras…