«O frente-a-frente na rádio, no âmbito das eleições legislativas, entre Passos Coelho e António Costa está agendado para 17 de setembro [...].»
Sol, 4/08/2015
«O líder do CDS, Paulo Portas, foi convidado pelas estações de televisão para participar nos frente a frentes cruzados sobre as eleições legislativas.»
Observador, 30/07/2015
«[...] todos os frente a frente televisivos destas eleições serão emitidos nos canais cabo (SIC Notícias, RTP Informação e TVI24), com exceção do debate entre Passos Coelho e António Costa, que será emitido em sinal aberto e em simultâneo na RTP1, SIC e TVI, no dia 9 de setembro.»
Expresso, 2/09/2015
Em Portugal, com as eleições legislativas no horizonte (em 4 de outubro próximo), é manifesta a hesitação dos media na grafia de frente a frente, quando pretendem fazer referência aos debates televisivos a dois da campanha eleitoral. Convém, portanto, referir que, no quadro do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (AO), não se hifeniza essa expressão, quer se use como substantivo («fizeram um frente a frente»), quer ocorra como locução adverbial («encontraram-se frente a frente»), conforme registo no Vocabulário Ortográfico da Porto Editora e no Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa.
É de assinalar que, durante a vigência da anterior norma ortográfica (de 1945), o substantivo em apreço aparecia escrito frente-a-frente em algumas fontes (cf. dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, obra que foi publicada em 2001), mas a sua hifenização não era sistemática. Com efeito, tanto se reservavam frente-a-frente para o substantivo («um frente-a-frente») e frente a frente para o advérbio («encontraram-se frente a frente»), como se grafavam ambas as expressões sem hífen; esta segunda situação é atestada pelo Dicionário Lello Estrutural, Estilístico e Sintático da Língua Portuguesa (1999), de Énio Ramalho. O Vocabulário da Língua Portuguesa, de 1966 e da autoria de Rebelo Gonçalves, não acolhe frente-a-frente, o que deixa supor que o seu uso como sinónimo de debate não terá começado antes dos anos 60 do século passado. Note-se igualmente que outros vocabulários ortográficos recentes, decorrentes da aplicação do AO – o Vocabulário Ortográfico do Português (VOP), o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (VOLP-ABL) –, não registam este vocábulo, certamente porque no passado a grafia da palavra aqui em foco não estabilizara. A propósito do VOLP-ABL, diga-se que os dicionários brasileiros parecem desconhecer o substantivo frente a frente, apenas mencionando em subentrada a locução adverbial «frente a frente» (cf. edição de 2001 do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, o Aurélio XXI e o Dicionário de Usos do Português do Brasil, organizado por Francisco S. Borba).
Quanto ao plural de frente a frente, este substantivo (ou locução substantiva), embora pertencente a um tipo de compostos sujeitos a oscilações (cf. dia a dia e corpo a corpo no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa), mantém a forma de singular no plural, tal como terra a terra («que é rasteiro, prosaico» e «coisa rasteira, prosaica»; cf. idem; ver também VOP), que é adjetivo e substantivo de dois números (idem), e porta a porta («contacto pessoal direto, feito de casa em casa»; cf. dicionário da Academia das Ciências de Lisboa), que marca do mesmo modo singular e plural («o/os porta a porta»). Tal parece ser a posição do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, quando classifica frente a frente como «substantivo masculino de dois números» (outras fontes dicionarísticas são omissas sobre a flexão deste item lexical). Também o nosso saudoso consultor F. V. Peixoto da Fonseca considerava que a expressão não se pluralizava. Afigura-se, portanto, adequado o emprego de frente a frente sem alteração no plural.
P. S. – Dito isto, não vejo que o plural «frente a frentes» esteja incontestavelmente errado. Atendendo a compostos com estrutura semelhante (isto é, nome + preposição a + nome, como os já referidos dia a dia, corpo a corpo), não se pode ignorar o facto de certas fontes dicionarísticas registarem a possibilidade de o plural se realizar morfologicamente, ainda que a (nova) ortografia sugira e reforce o caráter adverbial e, portanto, invariável que este tipo de compostos nominais tem na origem.