Poderão os nomes próprios pessoais sujeitar-se ao arbítrio criativo do falantes? Wilton Fonseca comenta um caso de criatividade que parece ter ido demasiado longe (texto original publicado no jornal i).
Sempre a contribuir para o aumento do nível de cultura geral daqueles que têm a enorme paciência de ler esta coluna, trago hoje ao conhecimento do leitor mais um nome próprio, fruto do infinito poder de criatividade do português, nomeadamente da sua variedade brasileira.
Na semana passada os leitores conheceram Francisgleydson, o romântico proprietário do "Cine Holliúdy". Hoje, são apresentados a uma nova criaturinha, nascida há dias no estado da Paraíba, no Nordeste brasileiro.
A história é enternecedora: o "motoboy" (o dicionário Houaiss regista a palavra "motobói", entregador de mercadorias que conduz uma motorizada) Anderson Cerqueira e a funcionária administrativa Janete dos Santos conheceram-se no Facebook. Do romance que se seguiu nasceu um rapaz, que, como qualquer outra criança, precisou de um nome. Os pais, agradecidos ao Facebook, promotor da aproximação das almas e da solidificação de tantas e tantas amizades, decidiram que lhe dariam o nome de Facebook Cerqueira.
Mesmo no Nordeste do Brasil foi difícil conseguir quem registasse a criança com aquele nome. À terceira tentativa, alguém sugeriu ao pai que acrescentasse o son ao Facebook, "aportuguesando" o nome. O jornal norte-americano Daily Bulletin, de Los Angeles, mostra a fotografia da família Cerqueira, com o pequeno Facebookson a dormir placidamente o seu sono inocente. Bem-vindo seja ao universo dos falantes de português, querida criança, e que o nome não o impeça de ser saudável e feliz.
crónica publicada em 23/01/2014 no jornal i