Sabemos, enquanto leitores, que, quando no início de um texto se menciona uma pessoa, depois, não se pode estar sempre a repetir o nome próprio que a identifica. Por exemplo, se uma notícia começa por «Durão Barroso», a seguir aparece «o presidente da União Europeia». Da mesma maneira, «Isabel Pires de Lima» alterna com «a ex-ministra da Cultura»; «José Saramago», com «o (Prémio) Nobel», etc.
Um texto expositivo, como é a notícia, tem à cabeça uma expressão nominal (tópico) sobre cuja referência se dá uma série de informações, a projectar na linearidade do texto. Assim, em cada segmento textual há necessidade de retomar o tópico inicial e, ao mesmo tempo, diversificar vocabulário. Nessa altura, recorre-se a expressões alternativas à expressão nominal original. Pode-se então lançar mão de sinónimos, perífrases, termos de síntese, etc. Não raro são também usadas expressões atributivas, que acarretam valores e juízos partilhados pelos membros de um grupo ou comunidade.
Vejamos.
«Ferreira Leite é a referência que conjuga em si a capacidade de restaurar a credibilidade (…) apoiar a "dama de ferro"» (Público, 23/4/08). O leitor faz facilmente a associação «dama de ferro» — «Ferreira Leite», ou por via do conhecimento enciclopédico, reconhecendo o epíteto dado a Thatcher, ou pela simples interpretação intuitiva da metáfora, que congrega candura, sensibilidade e nobreza (presente em dama) com inflexibilidade e resistência (ferro).
«Santana foi ontem o último (...) eventual candidatura do "menino guerreiro"» (ibidem). Quem é este «menino guerreiro»? Para uns é o David contra Golias, para outros será a criança-soldado — e para muitos é o bebé que em 2004 estava na incubadora e que agora luta «contra ventos e marés» que só existem na sua imaginação.
Afinal, como diz Teun van Dijk (linguista holandês), a ideologia é a verdade self-service: «Ideologies are a self-serving truth of a social group.»
Artigo publicado no semanário Sol de 3 de Maio de 2008, na coluna Ver como Se Diz