Gala SPA premia os melhores foi o título de uma notícia saída no jornal Metro, de 23 de Fevereiro de 2011, que dava conta dos prémios atribuídos pela Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) a criadores portugueses em diversas áreas: cinema, literatura, música, etc. O título causou-me alguma estranheza pela conjugação do verbo premiar em -ia e não em -eia como é claramente mais comum no português europeu, em que muitos até, sobretudo falantes e escreventes daquilo a que se convencionou chamar a norma culta, sentem mesmo como erro o uso de premia.
Saliente-se que o uso de premia seria até o mais curial, atenta a terminação do verbo em -iar, como refere Rodrigo Sá Nogueira, no seu Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem (p. 262-263), quando afirma: «[...] muitos verbos da segunda categoria [em -iar] conjugam-se hoje como os da primeira [em -ear], como anseio, comerceio, negoceio, odeio, premeio [...]», sublinhando mesmo: «Estas últimas formas, pois, são erradas, mas são factos consumados, e, por isso, não as podemos repudiar». E também, ainda que de um modo mais modalizado, Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (p. 422), quando referem: «[...] há um grupo de verbos em -iar que, no português de Portugal e na língua popular do Brasil, não seguem norma fixa, antes vacilam entre os modelos de anunciar e incendiar. São, entre outros, os verbos agenciar, comerciar, negociar, obsequiar, premiar e sentenciar.»
Desta vacilação, aceitando-a ou não, fazem eco também os dicionários. Enquanto o Dicionário de Verbos Portugueses da Porto Editora apresenta como paradigma para premiar o verbo odiar, exclusivamente com a conjugação em -eio, não admitindo sequer em simultâneo a flexão em -ia, como por exemplo faz para negociar (1.ª ed., 1999), a sua versão online, bem como a do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, acolhem ambas.
Na língua viva, porém, falantes e escreventes dos dois lados do Atlântico parecem ter feito a sua opção no que respeita à conjugação do verbo premiar. Pela pesquisa no Corpus do Português de Mark Davies e Michael Ferreira, da palavra premia, com o sentido de premiar — excluindo-se, é claro, a forma equivalente do verbo premir —, constata-se que esta não aparece uma única vez em textos do português europeu. E no Google, a expressão «premia os vencedores», restrita a Portugal, apresenta apenas 5 resultados, o que prova à saciedade como o português europeu (não) sente a conjugação em -ia do verbo premiar. Fenómeno idêntico, mas agora com premeia, parece passar-se no português do Brasil. A pesquisa de premeia, restringida a textos em português do Brasil no Corpus, e da expressão «premeia os vencedores», com idêntico critério, no Google, devolve-nos 3 ocorrências para cada.
Restam assim poucas dúvidas de que o verbo premiar admite as conjugações em -eio e em -ia. Mas também de que este se conjuga maioritariamente, ou até mesmo quase exclusivamente em -eio, no português europeu, outro tanto se passando com a flexão em -ia, no português do Brasil.
com a colaboração de Carlos Rocha