«Não basta ao professor apenas o conhecimento sobre a estrutura da língua que ensina, mas o seu funcionamento como prática social, como instância a partir da qual interagimos com o mundo.»
No mundo contemporâneo, e no espaço de promoção, difusão e projeção da língua portuguesa, cada vez mais se torna imprescindível uma educação linguística de qualidade e a formação de professores que estejam preparados para atuar em realidades complexas e em contextos de ensino diversos, como língua materna ou não materna. O fato que devemos reconhecer é que uma das políticas linguísticas mais importantes de fortalecimento e de promoção de uma língua é justamente o investimento na formação de seus professores, porque eles são agentes privilegiados, capazes de modificar a realidade que os cerca através do seu ofício de ensinar. Mas qual é o papel de um/uma professor(a) de português hoje? O que é necessário ensinar e aprender? Como podemos formar professores para lidar com toda a diversidade social, linguística e cultural das sociedades contemporâneas e com suas desigualdades e injustiças?
As sociedades mudaram e os espaços educativos tornaram-se mais complexos, exigindo das instituições formadoras uma maior atenção para o que fazemos quando ensinamos e formamos pessoas. Ainda assim, é difícil às vezes mudar velhas práticas, não é mesmo? As nossas instituições de ensino superior, em muitos dos nossos países, ainda insistem em uma formação estritamente teórica, preparando analistas e dissecadores de gramática, mas que pouco refletem sobre os desafios que enfrentarão em suas salas de aula. Por isso, não basta ao professor apenas o conhecimento sobre a estrutura da língua que ensina, mas o seu funcionamento como prática social, como instância a partir da qual interagimos com o mundo. Assim, enxergando as práticas de linguagem de nossos alunos e seus condicionamentos sociais e culturais, seria mais fácil desconstruir as visões elitistas e preconceituosas do português, que hierarquizam e discriminam alguns usos em detrimento de outros e que desconhecem as especificidades de cada contexto de ensino em particular.
Professores de português para o século XXI também precisam construir uma visão de língua que reflita a grande diversidade que caracteriza a comunidade lusófona, compreendendo o pluricentrismo linguístico não apenas como utopia, mas como princípio teórico e metodológico básico. Reconhecer os diferentes modos de existência em português é um meio de enfrentarmos a desigualdade de condições em que a educação em língua portuguesa se desenvolve, em nossos diferentes países e além deles. Desse modo, junto com a língua que ensinam, esses professores devem estar preparados para promover a cidadania e a consciência crítica de seus alunos, além de exercitarem a mediação intercultural, fazendo de suas salas de aula espaços de promoção da democracia e da justiça social.
Áudio disponível aqui:
[AUDIO: Edleise Mendes – Professores(as) de Português para o século XXI]
Crónica incluída no programa Páginas de Português em 29 de maio de 2022.