« (...) ensinar é sempre um último sopro, aquele que faz valer a pena continuar a ser professor, apesar de tantas adversidades. (...)»
Recomeçamos! E fazemo-lo sempre como se fosse um último sopro! Nos dias de hoje, muitos professores almejam ter um dia de trabalho feliz, aquele em que chegam ao fim de uma aula e têm a certeza de que foram ouvidos, de que foram respeitados, de que as suas palavras foram sábias.
Dar aulas é partilhar conhecimento, mas para que essa partilha seja bem-sucedida tem de ser aprendida, mas aprendida com prazer! Contudo, nos tempos atuais, começar ou recomeçar já não faz bater o coração com a euforia da entrega desprendida de receios. Os professores sentem que cada dia é apenas um suspiro de missão a ser cumprida, porque há muitos alunos que se recusam a aprender. Afinal, as novas tecnologias transmitem-lhes todas as informações de que necessitam... e sem terem de se esforçar.
Para os professores custa tanto dar tanto e tão pouco receber! E já nem falo de questões monetárias. Falo do respeito! Sim, do respeito, aquele respeito devido a todos aqueles que são responsáveis pela formação de pessoas neste país, sejam eles médicos, engenheiros, comerciais, políticos. E esse tal respeito começa em casa, é transmitido de pais para filhos. Se um professor ensina o filho de alguém, esse ‘alguém’ deve-lhe respeito. E um professor tantas vezes ajuda a crescer!...
Por tudo isso, repito, ensinar é sempre um último sopro, aquele que faz valer a pena continuar a ser professor, apesar de tantas adversidades. Porém, caros leitores, atentai: há ainda mais uma coisa de que nunca nos devemos esquecer, algo que nada pode substituir: o amor! Ou seja, não existe força maior do que a do coração, aquela que impulsiona a paixão por alguém ou alguma coisa. Não há computador ou telemóvel capazes de ensinar com a alma de um professor! E é isso que importa!
Por exemplo, um professor apaixonado por poesia poderá contagiar os seus discípulos a amar a magia das palavras. A emoção, a alegria, o entusiasmo serão a alma que poderão cativar os alunos, aqueles que respeitosa e interessadamente frequentam as aulas. E, no meio da literatura, ler-lhes textos com os quais se identifiquem, deixar que com eles se emocionem, analisá-los, escrever sobre eles. Trabalha-se/estuda-se melhor quando o fazemos com alma, quando a nossa alma está sintonizada na mesma onda.
Assim sendo, é preciso «almar» para ensinar ou para aprender. Sim: dar alma, ter alma, pedir alma, partilhar alma! Mas, atenção, tem de haver entrega de ambas as partes. Sintonia! Afinal, de que somos feitos? Não percamos a nossa essência! Humanizemo-nos!
Talvez seja isto que nos falta: «pessoas com gente dentro»! Temos de «almar» para ensinar, sim. Depois disso, poderemos dizer que nós, professores, cumprimos a nossa missão. Mas os alunos têm de «almar» para aprender! E «almar» começa em casa com os «bons valores»!
Quanto a mim, vou recomeçar, eu também... como se fosse um último sopro. Se será inutilmente? Não. Tal como diz Fernando Pessoa na Mensagem, Não, porque o cumprirei, «almando» a minha missão!
Artigo publicado originalmente na edição do jornal Público, em 6 de janeiro de 2020, escrito segundo a norma decorrente do Acordo Ortográfico de 1990.