Ferreira Fernandes publicou no DN (3/9/07) um artigo que é uma curta “irreflexão” sobre a diversidade linguística e que nasce de, e amplifica, ideias feitas sobre língua e poder.
Diz Ferreira Fernandes que a introdução do galego no ensino pré-primário na Galiza corresponde a um menosprezo pelo “espanhol” — que já não é ensinado como deve ser. Afirma que as crianças galegas, bascas, catalãs e cabo-verdianas perdem por aprenderem galego, basco, catalão e crioulo. Justifica que o castelhano e o português são “línguas mundiais”, da “I Divisão Mundial das Línguas”.
Desde o princípio do século passado que se sabe que não há línguas intrinsecamente superiores a outras: as primeiras comparações do inglês com várias línguas ameríndias provaram que estas têm a mesma complexidade gramatical e conceptual que aquela.
Poder-se-á pensar que Ferreira Fernandes ao dizer “língua mundial” quis referir a língua maioritariamente falada e que, portanto, a criança ao aprender uma língua minoritária está a comprometer o seu futuro social e profissional.
É falso, porque se sabe, há muito, que uma criança tem a capacidade inata de adquirir até cinco línguas em simultâneo. Um exemplo é a Índia, que tem 114 línguas reconhecidas e em que 75% da população tem o hindi como segunda ou terceira língua.
O pressuposto é o de que a promoção de uma língua minoritária implica o apagamento de outra mais hegemónica. Está errado: basta ver que a UNESCO declarou a diversidade linguística como um bem essencial para a humanidade e que a UE consagra o respeito pela diversidade das línguas na Europa (150 línguas regionais, 50 milhões de falantes). Porquê? Porque uma língua que desaparece é uma cultura que se extingue irremediavelmente.
Finalmente, diz o cronista que o castelhano já não é ensinado devidamente. Tem um bom exemplo sem sair de Lisboa: o português, língua nacional e língua oficial, que não é ensinado como deve ser há décadas.
Artigo publicado no semanário Sol de 15 de Setembro de 2007, na coluna Ver como Se Diz