Apesar do tom apocalítico, estilo Fukuyama, do professor João de Brito, profetizando a possibilidade do fim da literatura, julgo que, com todo o respeito e na minha ótica, pelo que consigo entender da sua pergunta, não terá razão [quando,divergindo da minha anterior resposta , sustenta serem possíveis ambas as frases em análise («Quero compartilhar fotos de eu mesmo cantando.» e «Quero compartilhar fotos de mim mesmo cantando.), por expressarem expressam intenções diferentes.
Decorre esta minha opinião justamente da análise que faço da «intencionalidade docomunicador»:
Em primeiro lugar, será necessário perceber quem é que canta nas fotografias. Do meu ponto de vista, será, indiscutivelmente, em qualquer um dos enunciados, o «eu».
Em segundo lugar, julgo que também será pacífico concluir que o grande objetivo do enunciador, em qualquer uma das frases, é vincar o facto de que é o «eu»/ele próprio que se encontra a cantar nas respetivas fotografias, e não referir a quem pertencerão as mesmas.
Em terceirolugar, creio que as próprias palavras do consulente comprovam o meu ponto de vista: «Gostaria de saber qual das opções abaixo está correta [...]».Ora, esta formulação discursiva do consulente não parece deixar grandes dúvidas quanto à essência da dúvida apresentada - saber qual a forma mais correta de se dizer que o «eu»/ele próprio se encontra a dançar nas fotografias.
Deste modo,entender que, no primeiro enunciado, se «releva o conteúdo», e,no segundo, se «releva a propriedade», parece-me algo forçado,estranho e até difícil de assimilar, pois, nesse caso, teríamos inevitavelmente de concluir que, na segunda frase — «Quero compartilhar fotos de mim mesmo cantando» —, o enunciador faz duas afirmações simultâneas, pois alguém tem obrigatoriamente que praticar a respetiva ação,isto é, «dançar» (quem mais do que o «eu»/«mim mesmo» o poderá fazer nestecontexto?). Assim, e seguindo o fio de raciocínio do professor João de Brito, a segunda frase conteria as seguintes informações:
1) As fotografias pertencem-me
e
2) Sou eu mesmo que estou a dançar nas fotografias.
Ora, não creio que tal interpretação se afigure viável, já que, ao afirmar-se «Quero compartilhar fotos de mim mesmo cantando.», não me parece de forma alguma líquido que se possa deduzir, tendo em conta o enquadramento linguístico (repare-se que o enunciador não diz «fotos minhas»), que as fotografias pertencem ao «eu» (ainda que, do ponto de vista semântico, o possamos considerar, visto que, se é o eu que quer compartilhar as fotografias, é possível que as mesmas lhe pertençam. Contudo, na verdade, do meu ponto de vista, ficamos sem saber a quem pertencem, de facto, as fotografias. Aliás, julgo que essa informação será irrelevante, pois não é esse, reitero, o escopo desta afirmação. Penso que, se o enunciador quisesse veicular, paralelamente, as duas informações transcritas,teria dito algo do estilo: «Quero compartilhar fotos minhas cantando.» ou «Quero compartilhar fotos minhas de eu mesmo cantando.» ou «Quero compartilhar fotos do João de eu mesmo cantando.» ou«Quero compartilhar fotos da Ana, nas quais estou eu mesmo cantando.»,
Experimentemos mudar de sujeito:
«Quero compartilhar fotos de ti mesmo cantando.».Será legítimo deduzirmos, tendo como pano de fundo esta construção, que o «tu»é o proprietário das respetivas fotografias? Na minha opinião, não.
Já agora, a formulação «Quero compartilhar fotos de tu mesmo cantando.»parece-me francamente marginal (para não dizer agramatical).
Em conclusão, julgo que a resposta por mim proposta não sótem em conta uma perspetiva «formal e normativa» (Cunha e Cintra são muito claros na citação por mim transcrita), como tem em conta, do meu ponto de vista, pelo exposto, a eventual «intencionalidade do comunicador».
Deste modo, mantenho o conteúdo da resposta que propus.