O uso literário do português começou pelas formas poéticas, sob D. Sancho I (1154-1211) e principalmente quando os fidalgos que regressaram de França com D. Afonso III reproduziram como moda da corte o lirismo trobadoresco, que D. Denis aproximou da tradição popular. A redacção em prosa começou pelos latinistas eclesiásticos, traduzindo em português os Evangelhos e alguns livros moralistas dos Padres da Igreja.
A renascença do Direito Romano, nas Universidades, fez com que da parte do poder real se impusesse o latim nos tribunais, alegações jurídicas e postilas doutorais. Assim se enriquecia o vocabulário português pelos neologismos, abandonando-se as formas populares, no meio desta exuberância de elementos eruditos. Raros foram os escritores que se libertaram do prestígio da imitação latina, favorecida pelas autoridades católica e académica, que afastaram a literatura portuguesa das condições orgânicas da sua originalidade.
Mas a língua portuguesa, que diferenciava uma raça, era meio de expressão do sentimento de uma nacionalidade. A escrita fixa-a, dá-lhe a norma de analogia nas suas derivações e, modificando-a artisticamente pelo estilo literário, torna-a, pelo génio dos seus escritores, um meio de coesão da própria nacionalidade. Terminada a época dos Descobrimentos, os Quinhentistas fortificavam a vida da nação, proclamando a cultura da língua…
Este pensamento dos Quinhentistas não era ignorado pelos escritores estrangeiros, que nos apontavam para exemplo. Na carta de D. Diogo de Mendoza, censurando o uso dos termos antiquados na tradução do Orlando, de Urrea, alude-se a este facto: Mas vos le debeis hacer por imitacion à los Portugueses, que han hecho ley en que defienden, que ninguno hable vocablo castelhano ni estranjero, sino solamente puro e nelo.
Camões, servindo o sentimento nacional na epopeia dos Lusíadas, unificou a língua popular com a erudita, que é a que se fala e que se escreve em todo o país.
Recapitulação da H. da Lit. Port., "Idade Média", Porto, 1909, pág. 67 e ss., in "Paladino