A Última Flor do Lácio, Coitada, ou Copacabana Beach - Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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A Última Flor do Lácio, Coitada, ou Copacabana Beach

Copacabana, em Rio de Janeiro, Brazil, é um endless week-end. Aí, o sol, o único a trabalhar full-time, se fez o melhor public-relations da cidade, desnudando os habitantes, facilitando o convívio.

Depois do breakfast, as girls, ouvindo um long-playing no pick-up, trocam rapidamente o baby-doll pelo maillot e se mandam para a praia com seus charmosos sun-shades. Vende-se de tudo na praia: ice-creams, coca-cola, geneal, sandwiches, crush, everything. As mais famosas stars, as mais glamurosas starlettes, as mais lindas pin-up dos magazines ilustrados, os play-boys mais bem lançados, todos freqüentam as areias de Copacabana Beach, onde bronzear a pele, flirtar, folhear o best-seller da moda, mascar chiclets, discutir os gossips, ouvir o hully-gully de um transistor, são os passatempos de todas as manhãs. Copacabana reúne as pessoas mais podres de chic do nosso café-society.

O short, o bermudas, o double-face, o blue-jeans, o bikini, são os uniformes oficiais da Zona Sul, não sendo o topless permitido pela polícia. Velozes jets cruzam o céu azul; liners de luxo ganham o mar alto; destroyers da Armada costumam evolucionar graciosamente nas vizinhanças das Cagarras.

A praia é bárbara: teams de foot-ball revelam os futuros craks do Brasil, estando aqui representados outros sports, como o volley-ball, o hand ball, a medicine ball, o yatching, o ski aquático e o delicioso surf-riding.

Depois do banho de mar, é dar uma esticada a um bob´s, onde se encontra toda a sorte de soft drinks, milk shakes, e onde é agradável fazer um quick lunch de chicken salad, hot´dog, hamburger, cheeseburger, ham´n´eggs, bem sazonados com mostarda ou ketchup. Alguns preferem o bar para um drink de whisky, uma gin tônica ou um cock-tail.

O shopping é outra das alegrias de Copacabana, que dispõe de moderníssimas boutiques e amplos supermarkets. E então, com o pôr-do-sol, o Rio by night começa a viver intensamente em suas boîtes, music-halls, night-clubs. Really exciting. Reporters andam pra cá e pra lá à cata de flashes e gossips. Excelentes crooners enchem a noite de melodias, desde o blues ao surf. Os shows têm o orgulho de exibir algumas das girls mais belas do mundo. Ao som do jazz — o cool e o hot são indiscriminadamente cultivados — os pares, cheek-to-cheek seguem as evoluções do twist ou de qualquer outro hit do momento. Nota-se ainda a rentrée do fox-trot, do lambeth walk e do charleston, estilos que fizeram o charme dos twenties nos States. Tudo com um sex-appeal legal! Os que apreciam a arte do strip-tease não se privarão de seu espetáculo preferido. Just sexy! E air-conditioning!!!

O Rio tem os seus pecados também... Como o trottoir não é permitido, embora se faça, é mais seguro pedir a um barman que lhe chame uma call-girl tártara.

Copacabana, numa palavra, é um exemplo de quanto conta pra o progresso a sadia filosofia da free enterprise, pois foi através de uma especulação imobiliária bacanérrima que os business men conseguiram construir esta flor da civilização ocidental. That´s a paradise!

Nomes de algumas boates e restaurantes de bon ton: Sacha´s (seven to seven), La Cloche d´Or, Le Bon Gourmet, La Cremaillère, Black Horse, Le Baccarat, Al Buon Gustaio, Little Club, Le Bec Fin, Fred´s, Ma Griffe, Drink, Studium Dinner Dance, Hi-Fi, Rose Garden Club, and so on...

Alguns magazins up to date: Femme, La Merveilleuse, Toutemode, Blumenkopf, La Robe, Deauville, Étoile, Mayfair, L´Amour e, por último, Future Maman.

Pratos típicos: beans, haricot, fagioli, bohne, respectivamente com rice, riz, riso e reis.

O. K. Now stop. Ciao.

Fonte

crónica editada no livro "O Colunista do Morro", 1965, in "Antologia de Textos do Modernis"

Sobre o autor

Paulo Mendes Campos (Belo Horizonte, 1922 – Rio de Janeiro, 1991) foi um escritor e jornalista brasileiro. Colaborou em diversos jornais, como O Jornal, Correio da Manhã e Diário Carioca. Foi diretor da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Da sua obra, destacam-se: A palavra escrita (1951), O Cego de Ipanema (1990) e Trinca de Copas (1984).