«Não pode mais acontecer darmos livros didáticos para Angola e eles serem queimados porque a ortografia é diferente», argumenta-se do lado brasileiro. A verdade é que tudo volta a estar em aberto, por causa das reticências portuguesas e do silêncio das autoridades angolanas.
A unificação ortográfica dos países de língua portuguesa, que vem sendo protelada desde a assinatura do acordo, em 1991, «pode nunca entrar em vigor». Foi o que admitiu ontem o presidente da Comissão de Definição da Política de Ensino, Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa (Colip), Godofredo de Oliveira Neto. «Não faz sentido começar um acordo de unificação já desunidos», disse ele, sobre o fato de apenas três dos oito países da Comissão de Países de Língua Portuguesa (CPLP) terem ratificado o documento. Oliveira reuniu-se ontem com representantes dos ministérios da Educação (MEC) e das Relações Exteriores, lingüistas e gramáticos das principais universidades do País, no Palácio Gustavo Capanema, no Rio. Para o secretário de Educação Superior do MEC, Ronaldo Motta, que participou da reunião, a adesão de Portugal e Angola, que ainda não ocorreu, é estratégica para a unificação ortográfica. «Favoreceria o intercâmbio cultural, educacional, didático e até econômico do Brasil com os países de língua portuguesa», afirmou. De acordo com Motta, o MEC retomou as discussões para implementação do acordo como parte da política externa do Governo Luiz Inácio Lula da Silva, de aumentar a área de atuação do Brasil no continente africano. «Não pode mais acontecer doarmos livros didáticos para Angola e eles serem queimados porque a ortografia é diferente», disse. A reforma ortográfica, que, entre outros itens, abole o trema e os acentos diferenciais, já poderia ter entrado em vigor desde dezembro de 2006, quando São Tomé e Príncipe ratificou o documento. O acordo previa que, se fosse assinado por três países, já poderia ser implementado nesses lugares. O Brasil foi o primeiro a ratificá-lo, em abril de 2004, seguido de Cabo Verde. Além de Portugal e Angola, faltam ratificar o documento Moçambique, Guiné Bissau e Timor-Leste.
Intelectuais portugueses contra «brasilianização da ortografia»
Intelectuais portugueses consideram a assinatura do acordo uma «brasilianização da ortografia», já que haveria mais palavras portuguesas do que brasileiras modificadas, afirmou. No Brasil, menos de 0,5% dos vocábulos seriam alterados. Em Portugal, seriam 2%. «Sugerimos que se façam campanhas de divulgação, mas também queremos ouvir os intelectuais que criticam a unificação, para saber até que ponto eles desconhecem o assunto ou se podem ter alguma razão», disse Oliveira.
in Jornal do Commercio de 15 de Setembro de 2007