Por circunstâncias históricas o Português, a partir do século XV, disseminou-se “pelas quatro partidas do mundo”, difundido por marinheiros, mercadores e missionários. Do Brasil a Macau. Do litoral das costas africanas à Índia e Timor. No século XVI, o Português foi língua de comunicação internacional, língua franca, língua global.
Esta herança histórica permanece ainda viva, o Português actualmente é a sexta língua materna a nível mundial, língua oficial de oito Estados, espalhados por quatro continentes e da Região Administrativa de Macau. Língua de trabalho em doze organizações internacionais, sendo utilizada diariamente por mais de 200 milhões de seres humanos. Porém e como sublinha José Saramago, no seu texto escrito especialmente para a Antologia, neste regresso do Ciberdúvidas, “não esqueçamos que as línguas se cercam umas às outras, não esqueçamos que a língua inglesa as cerca a todas e a todos nos cerca”. Poderá a língua portuguesa assumir um espaço relevante no contexto do mundo globalizado do século XXI?
A expansão de determinada língua é condicionada por factores extralinguísticos, é consequência não da vontade dos seus falantes, não de políticas de língua isoladas, mas sim do discurso científico que produz, da expressão cultural e artística que cria, e acima de tudo das relações económicas que veicula.
As línguas desempenham uma função crucial na génese das culturas e civilizações e o Português só desempenhará esse papel neste século, na medida, em que se impuser como língua de ciência, de expressão cultural e que seja um “meio de afirmação e uma poderosa vertente da economia de um país”, como recentemente escreveu a linguista portuguesa Helena Mira Mateus num artigo no semanário “Expresso”.
Sendo inegável que muito se tem feito pela defesa da língua em Portugal e pela sua expansão, consolidação e divulgação no mundo, empreendimentos alguns de grande mérito, constatamos, porém, que muito ainda há por fazer. Investir no ensino do Português em países pertencentes a blocos políticos regionais emergentes, como a SADC e o MERCOSUL, com perspectivas de desenvolvimento económico futuro, será medida acertada. Investir no ensino do Português em países que necessitam impreterivelmente do Português para estruturação do seu próprio Estado e da sua coesão nacional, sob pena de se transformarem em entidades ingovernáveis, será outra medida acertada. A formação de professores de Português nestes países deveria ser considerada prioritária. A construção de materiais didácticos informatizados e de dicionários electrónicos seria outra medida fundamental. Que papel têm desempenhado as Universidades Portuguesas e as Escolas Superiores de Educação a este nível? Do que conheço, uma acção escassa.
A utilização da Televisão para difusão da língua através da ficção a vários níveis seria essencial. Recordo ter lido num jornal há alguns anos que as telenovelas brasileiras fizeram mais pela expansão do Português do que seis congressos científicos, vinte dissertações académicas e cinquenta artigos científicos. Seria um excelente serviço público prestado à língua e à cultura portuguesas se a RTP ficcionasse alguns escritores. Matéria-prima não falta e como escreve o nosso Nobel “ uma língua que não se defende morre”.