«O esforço durante o campeonato europeu foi de tal calibre que Francis Obikwelu chegou a recear que as pernas poderiam falhar, poderiam não segurá-lo na cerimónia da entrega das medalhas.»1
Existem algumas incorrecções nesta frase.
Sob o ponto de vista da construção frásica, há que referir que o verbo recear exige o uso do conjuntivo (falhassem) na oração completiva que se lhe segue e que o pronome clítico “o” deve preceder o verbo, não só porque pertence a uma oração subordinada como por causa do advérbio de negação.
Sob o ponto de vista semântico e lexical, é dispensável o verbo poder («poder falhar»), pois não se receia que algo possa falhar, receia-se que algo falhe (o verbo recear já contém em si a ideia de possibilidade), e, quanto ao termo «calibre», ele só se usa no sentido de «tamanho» ou «importância» com conotação negativa, ou seja, relativo a pessoas consideradas marginais ou a factos reprováveis.
Em síntese, deveria ter sido dito o seguinte: «O esforço durante o campeonato europeu foi tal (ou tão grande) que Francis Obikwelu chegou a recear que as pernas falhassem, que não o segurassem na cerimónia da entrega das medalhas”.
1 Enrique Pinto-Coelho, "Jornal da Noite", SIC, 12 de Agosto de 2006