O termo surto tem invadido as nossas casas, associado particularmente ao aparecimento repentino de focos de covid-19.
Surto é uma palavra com uma longa história. Tem a sua origem no particípio latino surctus, uma forma irregular do particípio surrectus, do verbo surgere, que tinha na sua significação a ideia de algo que se levanta repentinamente. Estes valores permanecem até hoje na significação polissémica da palavra.
Naturalmente, o sentido mais ativo da palavra pertence hoje ao contexto médico, no âmbito do qual se descreve um “aparecimento repentino ou um aumento subido de casos de uma dada doença”. É assim que, quando se fala de surtos de covid como de surtos de cólera ou de meningite, a palavra adquire conotações negativas porque se agarra à ideia de doenças perigosas e destruidoras. Não obstante, a mesma palavra tem a capacidade de se associar a valores positivos, que expressam uma ideia de desenvolvimento rápido e fecundo. É neste âmbito que se fala de surtos de construção, de desenvolvimento ou até industriais.
Surto pode até expressar o crescimento de um movimento artístico e criativo. Na história, já assistimos a um surto de literatura científica, a um surto de poesia épica e, aqui e além, têm lugar surtos artísticos que nos deleitam sentidos e alma.
Estes são os aspetos positivos da palavra que de um surto queremos que preencham o nosso quotidiano, fazendo esquecer outros surtos de má memória.
Áudio disponível aqui:
[AUDIO: Surto - Carla Marques ]
In programa Páginas de Português, emitido na Antena 2, no dia 04/07/2021