« (...) A empatia liberta por todos os lados um cheiro a torpor, a um movimento de identificação acrítica com tudo e mais alguma coisa. (...)»
A passagem da palavra empatia de um uso técnico e erudito para um uso corrente, induzido pela linguagem dos media é um daqueles fenómenos que podia ser estudado por uma sociologia linguística. Em tempo, havia a simpatia, a antipatia e a apatia. Quanto à empatia, que a maior parte dos falantes desconhecia, fazia parte da linguagem dos conceitos, quer da psicologia, quer de uma outra área completamente diferente. A Estética. Na verdade, foram alguns teóricos da Estética, de língua alemã, que, desde o final do século XIX, tornaram a empatia uma questão importante da experiência estética. Seja-me permitido dizer que o actual uso imoderado da palavra empatia me provoca alguma irritação, ao ponto de, talvez injustamente, ter desenvolvido uma suspeita em relação ao sentimento que assim é designado. A empatia liberta por todos os lados um cheiro a torpor, a um movimento de identificação acrítica com tudo e mais alguma coisa. Nas suas manifestações mais visíveis, é uma fonte do kitsch.
Texto publicado do suplemento Ípsilon do jornal Público no dia 9 de agosto de 2019, escrito conforme a norma gráfica anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.