Ainda sobre o luandês - Diversidades - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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Ainda sobre o luandês

Este é um complemento à lista já apresentada de termos de calão luandês, falado em Lisboa e suas zonas suburbanas por milhares de jovens angolanos provindos de Luanda. Note-se que quase todos esses jovens têm o idioma português como língua-mãe.

Neste calão, as vogais são sempre abertas, as palavras arrastadas, como se fossem cantadas, qualquer «m» ou «n» a iniciar uma palavra, seguido de consoante, não se deve pronunciar. É como se fosse um til (influência das línguas bantu, neste caso do kimbundu).

boda (bôda) - festa
está anduta - está fácil
pelito - chapéu
gardina - calça
bila, bilau - camisa
bóter - carro
dbengo - ténis (sapato), feio, rato
iofé - feio
nboa (ô)- mulher
ui (í)- homem , sujeito
tejo, juté - burro, estúpido
tape (teipe) -televisão
ulá - relógio
piô, candengue - criança («pió» vem de «pioneiro», a antiga designação oficial das crianças na Angola marxista)
pitéu - comida
bitola, tubiacanga - cerveja
kikuto - casaco
laton, lara - mulato
latona - mulata
ngueta - branco (= pula)
makala, bumbu - negro
mboio - comboio
mbenda - chapada
apanhar uma tona - apanhar uma bebedeira
tonado - bêbedo
fubada, balada - funje
kota - mais velho (usa-se com um sentido de respeito, muitas vezes nada tem a ver com a idade, mas com a posição)

 

Sobre o autor

Jornalista angolano (Luanda, 1945 — Lisboa, 2024). Em Portugal, trabalhou no semanário Expresso durante 10 anos, com colaborações regulares, também, na TSFBBC e Rádio France, além de ter chefiado durante algum tempo o boletim em português África Confidencial. Regressado a Luanda, após uma passagem pelo jornal digital Nova Gazeta, passou a integrar os quadros redatoriais do Jornal de Angola, desde 2013, exercendo funções diversificadas: revisor, articulista, formador de colegas mais novos: ultimamente, assinava semanalmente textos na muito apreciada página “Caminhos da Vida”, com relatos, experiências e histórias de superação de pessoas mais desfavorecidas. Paralelamente, distinguiu-se ainda na dinamização de perto de 150 bibliotecas distribuídas graciosamente pelo interior mais recôndito do seu país¹. Profundo conhecedor da realidade sociolinguística angolana, foi durante largos anos um dedicado consultor do Ciberdúvidas sobre essa temática. Mais informação aquiaqui, aqui e aqui.

¹ Um livro, uma criança, muitos hospitais

 

 Cf. Rui Ramos (1945 — 2024)