Define-se regência como «a relação necessária entre duas palavras ou entre duas orações, em que uma determina a forma da outra. Contrariamente à concordância, a regência implica uma relação de dependência entre elementos, uma relação de interdependência de um regido relativamente a um regente» (Casanova, 2009: 270)*.
Uma regência frequente em português é a regência preposicional. Sabemos que os verbos amar ou odiar regem diretamente um complemento direto – «amar ou odiar alguém» –, mas já os verbos gostar ou precisar regem o complemento com a preposição de: não se *«gosta alguém», «gosta-se de alguém»; não *«se precisa uma coisa», mas «precisa-se de uma coisa» (os asteriscos mostram a agramaticalidade da construção).
Assim, o anúncio em apreço revela dois erros de regência, erros infelizmente muito frequentes nos dias de hoje: é que se tem a certeza de que ele consome o cálcio de que ele necessita. Ninguém *«tem a certeza uma coisa» nem *«necessita uma coisa». Estes dois verbos regem a preposição de. Muitos anúncios que atualmente se veem com textos como *«Tem a certeza que tem tudo o que precisa?» ignoram que «se tem a certeza de que…» e «se precisa de…».
Muitos autores estão hoje a render-se a esta perda de preposição. Muitas vezes por facilidades estilísticas ou conveniências de espaço, como é o caso de imagens e da legendagem. Sabemos que também é por razões destas que as línguas se transformam. O latim falado em Roma, por exemplo, conhecia seis casos de declinação; em França, dois, e na Península Ibérica, já só se conhecia o acusativo. Da passagem do latim para o português perdeu-se também o género neutro, etc. E assim se transformam as línguas.
No entanto, e no caso em estudo, os normativistas continuam de acordo: estas construções regem a preposição de. Diz-se, pois, «ter a certeza de qualquer coisa» ou «ter a certeza de que…», «ter a impressão de qualquer coisa» ou «ter a impressão de que…», «convencer-se de qualquer coisa» ou «convencer-se de que…», «aperceber-se de qualquer coisa» ou «aperceber-se de que...».
* Casanova, Isabel, 2009, Dicionário Terminológico. Compreender a TLEBS, Lisboa, Plátano Editora.