Mais uma confusão de duas parónimas, utilizadas a propósito de uma investigação da Polícia Judiciária, em Portugal – observada neste apontamento do autor, no jornal "i" de 10 de abril de 2014.
Mentes deformadas pela Fox Crime, sabemos de investigações criminais quase tanto como os próprios polícias. Eles trabalham muito, sem tempo de ver televisão, e por isso as investigações não avançam. Em contraste, cinco minutos depois do início de qualquer episódio do "Law and Order" ou de um "CSI", as donas de casa, sempre atentas, já sabem quem matou quem e o assunto fica arrumado.
Isto vem a propósito de uma história que os jornalistas não quiseram desenvolver. A polícia londrina anunciou há 15 dias que andava à procura de um homem que teria abusado sexualmente de cinco meninas no Algarve. Foi uma deselegante espécie de certidão de incompetência passada à polícia portuguesa, publicamente acusada de não ter estabelecido uma relação entre os crimes e o misterioso caso Maddie.
Antes que o assunto voltasse a desaparecer das agendas dos media, «fonte da PJ» informou os jornais de que a polícia tem prosseguido «com a investigação» (sic), com a «descrição e reserva» (sic) que a tem caracterizado. Podemos acrescentar um terceiro "com": o desconhecimento de um dos mais conhecidos exemplos de parónimos.
Os parónimos apresentam analogias gráficas e fonéticas, e significados muito diferentes: emigrar e imigrar; despensa e dispensa; eminente e iminente; descriminação e discriminação; descrição e discrição. São confundidos com frequência.
A polícia portuguesa descreve-se como discreta? Muito bem. Então age com «discrição», reserva, comedimento. Mas nunca com «descrição».