«E porque é que o diagnóstico é, tantas vezes, feito num estado já avançado? Infelizmente porque a doença quando dá sintomas é num estadio já bastante avançado. Habitualmente em estadios já metastáticos [...]».
Entrevista à oncologista Ana Castro sobre as neoplasias do pâncreas, SIC Notícias, Edição da Manhã, 26 de março de 2014, 9h32
Além das duas vezes acima referenciadas, a palavra "estadio" foi repetida mais cinco no decurso da conversa. Ora, pelo menos dicionarizada, estádio, sem acento, não existe. O que existe é estádio, uma palavra proparoxítona e, como tal, acentuada na antepenúltima sílaba, significando «fase» ou «etapa».
De realçar que o jornalista questionou a entrevistada sobre as razões pelas quais a doença – no caso o cancro do pâncreas – é quase sempre detetada num estado já avançado. Apesar de não serem sinónimas, ali pode estar indiferentemente estado ou estádio, porque o contexto semântico da frase assim o permite. A doença é diagnosticada numa fase (estádio) mais avançada, ou numa situação (estado) de gravidade já avançada.
Ainda que os dicionários de termos médicos que consultámos não a incluam, constata-se, porém, com alguma frequência, entre os oncologistas, o uso da palavra "estadio" (aqui e aqui, por exemplo) com o mesmo significado de estádio, pelo que é possível que este "estadio" provenha de estadiamento (as diferentes fases de evolução do cancro), palavra por sua vez formada a partir do verbo estadiar. Não é ainda de excluir que na origem deste (mau) uso possa estar envolvida alguma analogia fonética com estadia e/ou até mesmo com pousio.