Em Angola, conta-nos Edno Pimentel nesta crónica publicada no semanário Nova Gazeta de 5/09/2013, a cobertura jornalística do campeonato africano de basquetebol ignorou quase sempre o nome há muito aportuguesado do país anfitrião e do respetivo topónimo.
Foram momentos de muita angústia vividos durante o jogo entre Angola e a equipa da casa. Houve mesmo quem perdesse a esperança e lembrasse, no basquetebol, o que tinha acontecido à selecção de futebol no Campeonato Africano das Nações (CAN), em 2010.
Mas não seria a mesma coisa com estes postes que, por alguma distração, perderam, ou seja, emprestaram a taça à Tunísia, em 2011. Foram boas as participações em todos os jogos. Os egípcios não se deixaram abalar com a situação do país e lutaram até ao fim para tentar "roubar" o prémio que os tunisinos já tinham deixado para Angola durante os oitavos de final.
Quem também fez muito e tinha condições para se apossar da nossa bola de ouro eram os próprios donos da casa. «Nós vamos ganhar o campeonato. Não vêem que vencemos a Costa do Marfim na Côte d'Ivoire?», diz um mais-velho que estava na companhia de outros no Sindicato da Cerveja.
«Mas se continuarem a brincar, vamos ter surpresa», alerta um amigo que lembra que «até as formigas, às vezes, podem derrubar um elefante quando se unem e usam a inteligência». «Mas não é o caso, miúdo. Nós, aqui, não somos apenas as formigas. Somos a floresta toda», exagera.
Será por isso que «vencemos a Costa do Marfim na Côte d'Ivoire?» Não. Não foi por isso. Vencemos a Costa do Marfim na Costa do Marfim, permitam-me a repetição.
Costa do Marfim é a forma traduzida da expressão francesa Côte d'Ivoire (Côte = Costa, d’Ivoire = do Marfim). Provavelmente, por influência dos políticos nas relações com aquele país, os órgãos de comunicação social também adoptaram o nome tal como é pronunciado em francês. A influência foi tão forte que os nascidos na Côte d'Ivoire, Costa do Marfim, em Português, são, às vezes, chamados de ivoireenses, pronunciado [ivuaRi’ense].
Isto significa que só devemos usar Côte d'Ivoire se estivermos a falar francês. Em português, devemos dizer Costa do Marfim. Do mesmo modo que dizemos África do Sul e não South Africa, em inglês, ou Holanda e não Nederland.
O nativo da Costa do Marfim, seja homem ou mulher, é costa-marfinense. No desporto, dir-se-ia Angola venceu a Costa do Marfim ou a equipa costa-marfinens em casa.
In jornal Nova Gazeta, de Luanda, publicado em 5 de setembro de 2013 na coluna do autor, Professor Ferrão. Manteve-se a grafia anterior ao Acordo Ortográfico, seguida ainda em Angola.