Uma reflexão à volta da palavra «complicado», uma espécie de muleta linguística usada nas mais variadas situações… de complexa, ou difícil explicação. Crónica do autor, no jornal i de 4 de abril de 2013.
Na popularíssima vox populi (é simples, barata, recompensa a preguiça e dá milhões), a palavra que mais se ouve é «complicado». As águas inundaram a casa, o preço da gasolina subiu, o vizinho matou a mulher? Complicado. Muito complicado.
A repetida utilização do «complicado» indica incapacidade (dos donos da vox) de percepção daquilo que se passa. Como não se compreende o acontecimento e as circunstâncias que o rodeiam, agarra-se o «complicado» e o assunto fica arrumado.
Em latim, complicare significava «dobrar», «tornar menos simples». Consequentemente, implicar uma pessoa numa determinada situação, geralmente difícil ou penosa. Uma situação «complicada» é uma situação menos simples, complexa, difícil, de difícil compreensão ou explicação. Quando o jornalista se dá por satisfeito com um «complicado» e deixa que o assunto seja encerrado é como se aceitasse um “sim” ou um “não” como resposta a uma pergunta. Aceita o fim da questão. Em nome da clareza, deveria introduzir um “complicado como?”, o que em princípio deveria bastar para que a pessoa ouvida tentasse entrar em pormenores. A vox populi, como técnica jornalística, não pode ser apenas o registo automático daquilo que a pessoa ouvida quer dizer. Deve ser preparada e editada, caso contrário não exigiria a interferência de um profissional. Bastaria o gravador. Complicar é fácil. Descomplicar é muito mais interessante: é aquilo que o professor Marcelo já faz semanalmente e o eng. Sócrates promete vir a fazer.