Uma primeira parcela, num total de 70 mil euros, dos quais 35 mil foram já entregues, é o contributo do Governo de Luanda para os trabalhos que decorrem sob supervisão do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) para elaboração do Vocabulário Comum da Língua Portuguesa (VOC). A informação foi divulgada pela agência de notícias portuguesa Lusa [21/07/2013] e transcreve-se de seguida com as indispensáveis adaptações para um melhor enquadramento do assunto.
Considerado de importância estratégica para a língua portuguesa nos oito países lusófonos – só o Brasil e Portugal estão neste momento dotados de vocabulários nacionais –, o VOC passará a ser o instrumento que veiculará uma interpretação do Acordo Ortográfico comum a todos os países da CPLP. Em elaboração desde 2011, o VOC incluirá os vocabulários ortográficos nacionais de cada país, reunindo o maior acervo lexical já feito para o português e sendo representativo das variedades nacionais dos oito países de língua oficial portuguesa, como acentuou o diretor executivo do IILP, Gilvan Müller de Oliveira, em audição recente da Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República Portuguesa.
Apesar de com o Acordo Ortográfico se estabelecerem pela primeira vez num documento legal único regras de escrita comuns a todos os países, o texto legal foi objeto de leituras ligeiramente divergentes. Existe também a necessidade de construir dicionários e outros recursos lexicográficos de raiz nos países que ainda deles não dispõem, como Angola e Moçambique, em que são usadas formas que não se encontram registadas nas obras de referência. O VOC, instrumento previsto no texto do Acordo Ortográfico firmado por todos os países em 1990, é o fórum multilateral que permitirá resolver essas dissensões e lacunas.
O projeto prevê ainda a fusão dos recursos oficiais de âmbito nacional adotados em Portugal e no Brasil e a criação de novos recursos lexicográficos nos restantes países da CPLP, assegurando a representatividade de todos os Estados-membros no produto final, de que será apresentada uma primeira versão na II Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial, a ter lugar em Lisboa em novembro. Os primeiros resultados definitivos deverão estar prontos a tempo da cimeira de chefes de Estado de Díli, a ter lugar na capital timorense em julho de 2014.
Lisboa, 21 jul. (Lusa) – Angola vai financiar os trabalhos do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa, tratando-se «da primeira vez que um PALOP (país africano de língua oficial portuguesa) contribui para um instrumento central» do Acordo Ortográfico, disse à Lusa o diretor executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, Gilvan Müller de Oliveira.
«É a primeira vez que um PALOP financia um grande instrumento da língua portuguesa, central, como é o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOC), para a finalização do Acordo Ortográfico», disse à Lusa o linguista brasileiro, responsável por aquela instituição, acrescentando que a verba é de 35 mil euros [primeira parcela de um total de 70 mil euros atribuído pelo Governo de Luanda].
«O Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa, ao mesmo tempo que incorpora o vocabulário dos oito países [lusófonos] – seguindo a mesma metodologia e os mesmos critérios de aplicação das bases do Acordo –, mantém a possibilidade de individualizar os vocabulários de cada país, mas não apaga a variante do léxico nacional», explicou Gilvan Müller, sublinhando que Portugal, Brasil e Moçambique são os três países [com os vocabulários nacionais mais adiantados].
(…) Os trabalhos que foram desenvolvidos nos últimos três anos [no âmbito do IILP] vão ser apresentados em Portugal no mês de outubro na II Conferência da Língua Portuguesa no Sistema Mundial. [Medidas concretas] para a promoção e projeção internacional da língua portuguesa deverão ser então aprovadas.
«[Trata-se do] “plano de Lisboa” – explicou o diretor executivo do IILP –, [similar] ao “plano de Brasília”, em que estamos trabalhando, e que estará em vigor em 2014 após a sua aprovação pelos chefes de Estado e de Governo da CPLP na Cimeira de Díli, Timor-Leste», em julho do próximo ano.
«Pretendemos lançar a primeira plataforma do VOC em outubro, mas a nossa perspetiva é integrar [já], também, um quarto país que já está avançado no processo de elaboração do [respetivo vocabulário nacional], que é Cabo Verde.» [Gilvan Müller de Oliveira prevê a integração do vocabulário cabo-verdiano em julho de 2014, na Cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa de Díli.]
O Instituto Internacional da Língua Portuguesa foi encarregado pelo Plano de Ação de Brasília para a elaboração do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa, tratando-se de um resultado direto da primeira Conferência Internacional sobre o Futuro do Português no Sistema Mundial [ocorrida na capital brasileira, em março de 2010.]
«O plano de Brasília» – recordou o diretor executivo do IILP – «foi aprovado numa reunião técnica internacional, pelos pontos focais da CPLP, e foi parcialmente financiado, num primeiro momento, pelos recursos de apoio às iniciativas culturais dos PALOP através do programa dos fundos ACP (África, Caraíbas e Pacífico).»
A primeira ação do Instituto Internacional da Língua Portuguesa foi realizada precisamente através dos meios desta plataforma – explicou o linguista brasileiro. Já para a elaboração do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa, a sua concretização conta agora com os recursos financeiros disponibilizados pelas autoridades angolanas:
«Montámos uma equipa central, mobilizámos as equipas técnicas dos vários países, fizemos o primeiro curso técnico para a composição dos vocabulários ortográficos nacionais. O Vocabulário Ortográfico Comum é constituído pelos vocabulários nacionais de cada país – uma inovação muito grande na metodologia [deste tipo de obras] – e teremos nesse momento [em outubro, na segunda conferência] três vocabulários nacionais concluídos: o de Moçambique, o de Portugal e o do Brasil.»