«Quem puder que estabeleça a fronteira entre a javardice e a arte urbana, entre o irrelevante e a contravenção, entre o vandalismo e o respeito pela propriedade alheia, entre um italianismo e o seu aportuguesamento». Texto publicado no jornal "i" de 13 /08/2012.
O Governo [português] prepara legislação sobre o vandalismo e os graffitis que cobrem o país. Pelo menos foi isto que o ministro Macedo tentou anunciar, sem que os jornalistas lhe ligassem nenhuma. Sabe-se que não é simples. Graffiti é palavra italiana, e o “i” final já indica o plural. Portanto, o ministro queria dizer «os graffiti», mas pensava no vandalismo. Os dicionários registam a palavra grafito, que nunca teve êxito, o mineral grafite (grafito) e indicam «pichagem” e «pichação» como possíveis (e imperfeitos) substitutos de graffiti. Língua portuguesa à parte, a coisa é ainda menos simples. A Wikipedia em inglês liga graffiti a um comportamento “ilícito”; a sua versão portuguesa, mais branda, não estabelece tal ligação.
Mal tiveram conhecimento da ministerial e vaga intenção, vários blogues afirmaram que o Governo quer «criminalizar o mural político», coisa que só malucos conseguem ver nos «Nuno love Katy» que enfeitam os comboios. Quem puder que estabeleça a fronteira entre a javardice e a arte urbana, entre o irrelevante e a contravenção, entre o vandalismo e o respeito pela propriedade alheia, entre um italianismo e o seu aportuguesamento. Só sei que o Governo anda a limitar a liberdade dos indivíduos. Qualquer dia proíbe a mendicidade infantil no Metro!
In jornal i de 13 de agosto de 2012, sob o título "Graffiti". Respeitou-se a antiga ortografia do original.