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Pelourinho // Mau uso da língua no espaço público

Desventuras de um por ventura

Numa entrevista do presidente do Banco Espírito Santo português, Ricardo Salgado, e referindo-se à privatização da TAP e à possibilidade de a Iberia poder vir a ser a companhia escolhida para o negócio, pode ler-se:

«Não digo isso. Por venturaIberia e a British Airways poderão fazer uma proposta onde deem garantias mas isso deve ser o Estado a julgar, não eu» (Expresso, Caderno  Economia, n.º 2060, 21 de abril de 2012).

Literalmente, o que lá está escrito é que a Iberia e a British Airways poderão, com sorte, fazer uma proposta, já que a expressão «por ventura» significa por sorte ou por felicidade. O que deveria ter sido escrito é que porventura, ou seja, que talvez, que possivelmente, aquelas companhias possam fazer uma proposta.

A confusão é entre a expressão «por ventura» e o advérbio porventura, da qual aliás deriva, mas que tem significado distinto.

Nesta frase, a maioria dos leitores ainda percecionam o erro e intuem, pelo contexto, o sentido correto, ajudados também por algum desuso em que caiu a palavra ventura. Mas outras há, por desventura, em que isso não acontece. Veja-se, por exemplo, este caso:

• «Portugal poderá, porventura, sair da crise em que se encontra.»

• «Portugal poderá, por ventura, sair da crise em que se encontra.»

 

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