Surpreendi no jornal português Record (n.º 11 848, de 20 de setembro de 2011, p. 40) a palavra bazookada (do inglês bazooka), confirmando uma tendência recente para alguns aportuguesamentos de contestável legitimidade. Neste caso, ainda por cima, não há nenhuma razão para que não se proceda ao seu aportuguesamento regular, desde logo porque já existem palavras da mesma família em português.
O contexto era este: «Onyewu. Bronze. Subiu ao 3.o andar e com um cabeceamento que mais parecia uma “bazookada” selou a vitória do Sporting em Vila do Conde, a 3.a consecutiva da época. E os leões respiraram de alívio.» Bazookada equivale ali a um remate frontal e forte de cabeça. É obviamente metafórico e parece-me uma imagem bem conseguida. Porque se trata de um remate de cabeça, e a bazuca ou lança-roquetes1 é geralmente disparada ao nível da cabeça. Porque se trata de um remate frontal e forte como um disparo de bazuca. Porque vai juntar um termo bélico moderno a um tecnolecto com as suas idiossincrasias, o do futebol, já pejado de termos militares. Porque para os remates a linguagem futebolística já utiliza expressões como «alvejar [ou fuzilar] abaliza». Porque, que me lembre, nas metáforas bélicas do futebol, o mais próximo que existe para «fuzilar a baliza de forma particularmente violenta» é o petardo. Por tudo isso, aquele termo acrescenta precisão e novidade. O que estranho ali é, não tanto a imagem em si, mas o facto de não se ter simplesmente optado por bazucada (de bazuca + -ada), ou seja, adicionado ao termo bazuca, que já existe em português, o sufixo -ada.
1 Roquete(s) – do inglês rocket(s) – é outro aportuguesamento, devidamente registado pelos dicionários, que respeita a feição da língua portuguesa.