Num artigo intitulado Nova York, publicado no Diário de Notícias (3 de Março de 2011), Maria José Nogueira Pinto grafa assim aquela cidade norte-americana, referindo-se aos seus habitantes como "novayorkinos". Confesso que o Nova York já me desagrada por aportuguesar um nome pela metade, ademais quando Nova Iorque já está plenamente consagrado pelo uso. Mas "novayorkino"?! Primeiro, porque desrespeita a regra que obriga a hifenizar os derivados directos de compostos onomásticos1 e, segundo, porque ainda que ela não existisse, mete com calçadeira, entre dois elementos portugueses, um terceiro estranho à nossa língua, criando um híbrido, ainda por cima, e apesar de o Acordo Ortográfico (AO) de 1990 prever o uso das letras k, w e y designadamente nos topónimos, com aquele y!
Porém, todos sabemos que os topónimos e os gentílicos são terra praticamente sem lei. Ciente do terreno minado que pisa, o próprio AO de 1990, na sua Base I, apenas recomenda que os topónimos de línguas estrangeiras se substituam, tanto quanto possível, por formas portuguesas. Vale o uso e a tradição. Ninguém diz London, mas, sim, Londres, nem München, mas, sim, Munique. Porém, não é menos certo que dizemos Nova Iorque, mas continuamos a escrever York, quando nos referimos à cidade inglesa!
Voltando ao "novayorkino", todas as obras que consultei, inclusive o utilíssimo Dicionário de Gentílicos e Topónimos do Portal da Língua Portuguesa, apresentam nova-iorquino. Também vi noviorquino. Dando-se eco do uso no português do Brasil, Houaiss consagra também nova-yorkino. Nunca por nunca, porém, na forma aglutinada "novayorkino".
1 Trata-se de regra constante da Base XXVIII do Acordo Ortográfico de 1945 (AO 45): «[...] os derivados directos dos compostos onomásticos [...], tanto dos que requerem como dos que dispensam o uso do hífen, exigem este sinal, à maneira do que sucede com os derivados directos de compostos similares do vocabulário comum. Quer dizer: do mesmo modo que se escreve, por exemplo, bem-me-querzinho, grande-oficialato, grão-mestrado, guarda-moria, pára-quedista, santa-fèzal, em harmonia com bem-me-quer, grande-oficial, grão-mestre, guarda-mor, pára-quedas, santa-fé, deve escrever-se: belo-horizontino, de Belo Horizonte; castelo-vidense, de Castelo de Vide; espírito-santense, de Espírito Santo; juiz-forano, de Juiz de Fora; ponte-limense, de Ponte de Lima; porto-alegrense, de Porto Alegre; são-tomense, de São [ou S.] Tomé; vila-realense, de Vila Real.» Embora o Acordo Ortográfico de 1990 seja omisso sobre este assunto, os vocabulários ortográficos que o aplicam (incluindo o da Academia Brasileira de Letras) hifenizam tais derivados, em conformidade com a regra do AO 45.