Quem precisar de algumas dicas para decidir onde passar esta Páscoa pode recorrer a uma ou duas revistas especializadas em matéria de viagens.

Estas publicações têm como objectivo promover a compra de viagens a destinos turísticos, a lugares onde se desenvolveu uma indústria de férias. O destino turístico vai restaurar a alma e o corpo do comprador e vai ainda transformá-lo num ser distinto e singular. Daí que as "reportagens turísticas", que servem de ilustração às vistosas fotografias, estejam pejadas de termos como sofisticação, charme, requinte, bom gosto, etc.

O requinte é procurado também na maneira de redigir estas "reportagens". Porém, muito frequentemente, o "repórter" tropeça na rudeza da asneira.

Na revista Volta ao Mundo deste mês, num texto sobre a Páscoa em Zamora, opta-se pela expressão «procissões multitudinárias» em vez de, simplesmente, «procissões cheias de gente»; mas, na mesma frase, escreve-se encapuçados em vez de encapuzados. Ainda na mesma revista, num outro texto, sobre Telavive, abundam as figuras de estilo (a sinestesia: «a tranquilidade que exala é inegável»; a aliteração: «bíblica boleia da baleia», a perífrase: «com vistas para as águas onde Jonas sumiu», etc.), mas as frases têm defeitos de construção («As três anglo-palavritas [plural] plantadas na página ímpar do menu — a par é [singular] grafada em hebraico»).

Na Rotas & Destinos, também deste mês, dá-se lugar de destaque às terras de Trás-os-Montes. Reconhecemos aí também esse esforço de fazer da "reportagem" um texto literário, onde encontramos até uma piscadela de olho à hipálage de Eça («para onde muitos locais vêm fumar o seu cigarro pensativo»), mas depois, inacreditavelmente, confunde-se misantropia, com filantropia: «à conversa com o tio João, a tia Maria, ou o tio Ginja (…) numa alegre misantropia só possível nesta região.»

Se aquilo que é dito nestas revistas revela o ideal dos lugares, a forma como é dito mostra a realidade de uma escrita precária.