Depois da duvidosa construção, em português, da forma impessoal «é suposto», que tão em voga se encontra entre nós — tradução directa e, a meu ver, totalmente desnecessária do inglês «it’s supposed» —, também as formas pessoais do mesmo verbo («I was supposed», por ex.) começam a ser adoptadas pelos portugueses, presumo que por alguns que dominarão o inglês mas que pouco se importam com a sua língua.
Ora, em bom português, a construção impessoal «é suposto» é aceitável, uma vez que gramaticalmente correcta, pese o facto de se tratar de um modismo, de um bordão de linguagem, facilmente eliminável da frase. Quando o seu uso se justifica, ela pode ser substituída, com vantagem, por construções como «supõe-se que», «supunha-se que», etc. Já a construção pessoal, corrente na língua inglesa, é inaceitável em português. Posso dizer «suponho que as abóboras estão maduras», não posso dizer «as abóboras são supostas estar maduras».
Não posso dizer (ou não devo) «eu era suposta ser a moderadora do debate».
Não posso dizer «a terminologia que era suposta ser conhecida…».
Pois não, não posso. Mas estas duas últimas frases, lapidares, ouvi-as na Antena 2. Tanto uma como outra proferidas por pessoas com responsabilidade, no campo da cultura, a primeira, na área da linguística, a segunda.
Em ambos os casos, verdadeiras aberrações. Só nos resta esperar que haja algum bom senso e que a moda não pegue.