Não é nada improvável ouvirmos este pedaço de conversa enquanto tomamos café ao balcão:
«Podes mandar-me os mpeg zipados. Eu levo wireless e faço-te o upload disso de lá.»
Estão aí, na boca de toda a gente: os downloads, os MP3, os chats, as drives, os backups e os screenshots; os registos de login; os conteúdos em RSS e podcast; os bytes, os mega, os giga…
Uma língua de especialidade corresponde ao uso de termos específicos de um dado domínio técnico-científico. Tipicamente, estes usos têm lugar em situações particulares de interacção, ao mesmo tempo que instituem uma comunicação à escala global, fortemente permeáveis a estrangeirismos.
Porém, ao contrário das terminologias da economia e finanças ou da astrofísica, por exemplo, situadas na periferia do grande sistema da língua que é o português corrente, os termos da informática afectam fortemente ao léxico geral do português.
Em primeiro lugar, os termos da informática não estão confinados a especialistas, porque o cidadão comum precisa desses termos para se movimentar na grande massa da informação digital. Cumulativamente, a velocidade da renovação terminológica em informática é superior à de qualquer outra área de especialidade. Isto gera um efeito de turbulência no léxico geral, nunca visto até aqui: há muitos termos que não são traduzidos ou que se mantêm em sigla do inglês (IP, FTP); há outros anglicismos que recebem flexão do português (scannear); outros há que são traduzidos, mas cujo significado se mantém tão opaco como se estivessem em inglês (desfragmentar, formatar, banda larga).
Mas claro que não são as palavras que são opacas — são os conceitos.
Veja-se: está em estreia mundial o exabyte. Sabe o leitor o que é um exabyte? Corresponde a 1,152,921,504,606,846,976 bytes. Alguém fez as contas, e o Expresso noticiou: 161 exabytes equivalem a 3 milhões de vezes o total de livros escritos, desde sempre.
*Artigo publicado no semanário Sol de 25 de Agosto de 2007, na coluna Ver como Se Diz