António Costa, candidato do PS à Câmara Municipal de Lisboa, declarou na semana passada que, se ganhasse as eleições, ia criar um simplis, ou seja, um simplex para a cidade de Lisboa.
A que processo de formação vocabular pertencem estas duas palavras?
Poderíamos colocar a hipótese de se tratar de um acrónimo, por exemplo, Sistema de Modificação Possível das Leis Excedentárias. Mas não seria de excluir também a presença do neologismo "simplexificação" (por analogia com complexificação) na sua forma reduzida. A interpretação mais erudita será a que vê em simplex o resultado união de "simp", de simples, com lex, lei em latim.
Podemos considerar todas ou nenhuma destas hipóteses, porque simplex é simplesmente a palavra que fica no ouvido e que, portanto, é perfeitamente adequada para designar o "Programa de Simplificação Administrativa e Legislativa".
O caso de simplis é diferente: trata-se claramente de um caso de amálgama, ou seja, de criação de uma palavra através de partes de outras palavras já existentes na língua: "simp" (de simples) + "lis" (de Lisboa).
Que necessidades comunicativas impeliram à criação destas duas palavras?
Simplex e simplis são palavras especiais, porque designam algo limitado no tempo e são usadas por uma comunidade restrita de falantes. Para além disso, estas palavras vêm provar que o processo de significação e referência não se faz só num sentido. Deus criou as coisas e deu-lhes nomes. Mas, agora, fica demonstrado que também é possível criar os nomes para fazer existir as coisas.
*artigo publicado no semanário Sol de 30 de Junho de 2007